DENTRO DE CADA UM DE NÓS HABITA UM GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ, DE ALGUMA FORMA.

Antônio Assis
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Almério Nunes
Tribuna na Internet
Dono de um “estilo avassalador e luminoso”, ele escreveu livros que nada tinham a ver com a realidade. Foi um gênio do Realismo Fantástico ou Mágico – como muitos preferem – já que compunha personagens delirantes, fora dos contextos da vida como conhecemos e admitimos.
“Gabo”, desde a infância, ouvia histórias de fantasmas contadas por sua avó, no casarão onde vivia. Depois, mergulhou nas obras de Julio Verne e Alexandre Dumas e deixou-se empolgar por elas, bastante incomuns para uma literatura cultural, digamos assim, pois nelas a aventura é o que predomina.
Foi trabalhar num jornal… e seus colegas o puseram em contato com Faulkner, Hemingway, Joyce, Kafka… Como seja, desde cedo Gabo passou e conviver com obras extraordinariamente fantásticas e/ou fantasiosas, como “O Velho E O Mar”, de Ernest Hemingway, por exemplo. Neste livro, um pescador sonha a vida toda em pescar um peixe gigantesco. Quando consegue, amarra-o ao seu pequeno barco, mas não pode trazê-lo para a praia já que os tubarões o atacam e comem o peixe todo, deixando somente a espinha.
“Consegui … mas não posso exibir minha vitória. Não faz mal, no meu íntimo eu sei que consegui, que o peixe existiu, posso contemplar a espinha”.
CEM ANOS DE SOLIDÃO
Em sua obra máxima, Cem Anos de Solidão, percebemos, em imagem, igualmente um pescador, num pequeno barco no oceano, delirando, sonhando com um peixe enorme, para mostrar para o menino que o acompanhava que era capaz, que o tal peixe de fato existia.
Quem de nós não sonha, não tem seus delírios, com algo que está além das nossas compreensões e forças? Creio que aí está uma considerável razão – ou toda a razão – para o tremendo sucesso do Gabo e principalmente do Cem Anos de Solidão. Assim como Miguel de Cervantes no seu mais do que fantástico e delirante Dom Quixote, Gabo descreveu a luta pelo impossível, apresentando para o mundo quadros distorcidos como as pinturas dos rostos de Pablo Picasso, quem sabe, dizendo … “distorcido é o mundo!”
Mas … perguntado, Gabo afirmou que sua obra maior é “O Amor em Tempos do Cólera”, por ser verdadeiramente humano (sic). Neste livro, a história passa-se entre um homem e uma mulher que não se conheciam, e permaneceram por muitos (40?) anos apaixonados. Como é difícil, ou mesmo impossível, decifrar a alma dos gigantes!
VEIAS ABERTAS
Recentemente Eduardo Galeano afirmou que não cabe mais o que está em “As veias abertas da América Latina”. Como pode? Neste livro está toda uma trajetória de massacres, explorações, roubos e assassinatos em massa de todo o tão sofrido povo deste continente, durante séculos; e tudo contado com épocas, datas, locais, especificações diversas.
Gabo! O Sonho Impossível de Cervantes, de Hemingway e o seu… são os meus, delirante que sou, por ver tamanhas distorções no mundo. No “Fantasma da Ópera”, um homem de feições muito distorcidas sequestra um mulher (Cristina) e diz para ela: “Não tenha medo! Minha aparência é feia, mas eu te amo! Posso te fazer feliz! Deixe que a luz do amor penetre em nossas vidas!”
MUNDO MÁGICO
Distorções. Delírios. Fantasias. Mundo mágico. Tudo isto habita as nossas em sonhos.
Então, para que serve a utopia, perguntaram para Galeano:
“Dou um passo na direção dela… ela se afasta. Dou dois passos…ela se afasta mais. Não irei alcançá-la, mas é por causa dela que prossigo caminhando, indo em frente”.
Acreditar! Acreditar sempre! A capacidade de lutar é o que importa, independentemente do resultado. Gabo, em seus delírios do Realismo Mágico… em seus muitos livros… nos conduziu a esta reflexão.

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