João Donato comemora 80 anos com shows pelo mundo e homenagens em livro e documentário

Antônio Assis
0
Clarissa Pains
O Globo

Aos 8 anos, o menino João Donato fazia sua primeira música, dedicada à namoradinha Nini. Aos 80, completados no último domingo, ele já não tem Nini como fonte de inspiração, mas, considerado um dos precursores da bossa nova, coleciona um sem-número de canções e faz sucesso mundo afora, com músicas gravadas até em japonês, alemão e hebraico.
— Eu já li por aí que tenho mais de 400 composições, mas eu mesmo não sei a quantidade exata — diz ele, bem-humorado, em sua casa na Urca.
A prova do alcance global de seus acordes são os shows lotados em comemoração ao seu aniversário. Ele já passou por Finlândia — onde tem até fã-clube oficial —, França, Rússia e Portugal. A agenda inclui, ainda, uma homenagem no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, além de shows em São Paulo e Minas Gerais.
Até o início do ano, estão previstos também uma biografia escrita pelo jornalista Antônio Carlos Miguel e uma série em forma de documentário no Canal Brasil, feita pela cineasta e ex-cunhada Tetê Moraes.
Nascido no Acre quando o pai, um major da aeronáutica, trabalhava lá, Donato credita muito de sua produção musical à infância passada no estado do extremo oeste brasileiro.
— O que me ajudou mesmo a aflorar o gosto pela música foi o fato de ter nascido no Acre, lugar que tem uma musicalidade própria. Parece até um país diferente — diz.
Já a adolescência aflorou numa cidade e numa década que, mais tarde, entrariam para a história da música: Rio de Janeiro, anos 1950. Foi nessa época que ele formou seus primeiros conjuntos e lançou seus primeiros LPs. Logo depois, no entanto, mudou-se para os Estados Unidos, onde viveu por 12 anos e ajudou a consolidar em solo americano a imagem da recém-nascida bossa nova.
— Fui trabalhar nos Estados Unidos porque não encontrava trabalho no Brasil. Aqui, achavam meus arranjos sofisticados demais, queriam uma música mais comercial. Nos Estados Unidos, eu me vi forçado a integrar conjuntos latino-americanos, mas foi lá que descobri a mistura de jazz com ritmos afro-cubanos e brasileiros, o que, logo depois, fez muito sucesso. Quando João Gilberto e Tom Jobim passavam por Los Angeles, nós tocávamos juntos. A minha música não tinha mudado, mas os ouvidos do público, sim — lembra Donato. — Fazíamos parte de uma turma que passou um bom tempo sem dar certo, mas sempre sabendo que tínhamos algo de bom, em comum entre nós e incomum em relação a tudo o que era feito até então.
Para o amigo e produtor musical João Samuel, a combinação de simplicidade com elegância ajuda a tornar a obra de Donato única.

— Ele tem uma impressão digital musical, algo que poucos artistas têm. Se você ouve uma melodia dele no piano, sabe logo que é Donato — pontua ele.
É que as notas musicais permeiam cada segundo da vida desse ícone. Quando perguntado sobre seus passatempos além da música, ele retruca:
— E tem alguma coisa que não tem a ver com música? — questiona, emendando uma risada.

Postar um comentário

0Comentários
Postar um comentário (0)