Três primeiros discos de Led Zeppelin ganham reedição de luxo

Antônio Assis
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Mário Rolim
Folha-PE

A banda focada neste texto, o Led Zeppelin, foi acusada pelo guitarrista Eric Clapton de tocar “desnecessariamente alto”, pelo beatle George Harrison de ser “incapaz de compor uma balada” e por Keith Richards, guitarrista dos Rolling Stones, como uma banda que “nunca decolou”. Então vem a pergunta: por que dar atenção a ela? Bem, primeiro porque ela era e ainda é um sucesso estrondoso de vendas, com mais de 300 milhões de discos vendidos. Segundo porque ela é frequentemente considerada “a maior banda dos anos 1970”. Terceiro porque ela está relançando seus três primeiros álbuns (“Led Zeppelin” e “Led Zeppelin II”, de 1969, e “Led Zeppelin III”, de 1970) em versão remasterizada e com discos extras com material inédito.
Não que o Zeppelin fosse tão gigante assim na época de lançamento do primeiro disco, por exemplo. No começo de 1969, eles ainda eram um apanhado feito pelo único sobrevivente da banda inglesa The Yardbirds, o talentoso, mas pouco conhecido, guitarrista Jimmy Page, que reuniu um baixista experiente apenas em estúdio (John Paul Jones), um vocalista atraente, mas sem presença de palco (Robert Plant) e um baterista expulso de vários grupos por ser “mão pesada” demais (John Bonham). Após o lançamento do terceiro disco, eles já estariam no topo das paradas e tocando para estádios lotados. Ouvidos em conjunto, os três discos mostram um grupo em visível desenvolvimento de sua estética, passando de um primeiro álbum quase inteiramente baseado em covers (ou plágios) de músicas de blues e folk, para um segundo que mostrava seu desenvolvimento como compositores e criadores de hits com riffs de guitarra pegajosos, e finalmente um terceiro mais calmo e majoritariamente acústico. Tudo isso com um experimentalismo herdado do rock psicodélico dos anos 1960 alicerçado por uma seção rítmica sólida e pesada - que seria essencial na criação do heavy metal alguns anos depois.
    Dos três discos de material extra, o mais interessante é o do primeiro álbum, por uma razão muito simples: ele contém material gravado ao vivo - um show de 10 de outubro de 1969 em Paris, com setlist baseado nos dois primeiros álbuns. O disco mostra um grupo ainda se conhecendo, mas que já dava sinais da dimensão colossal que suas apresentações ao vivo teriam desde então, sempre com altas doses de improvisação. Isso fica particularmente evidente em “Dazed And Confused” e “Moby Dick” - na primeira, Page faz um etéreo solo de guitarra usando um arco de violino, e na segunda Bonham cria um pandemônio com um solo de bateria. Com o tempo, as duas se tornariam momentos-chave nos shows, assim como cada vez mais longas, conforme os anos 1970 avançavam e o grupo era tomado por excessos e hedonismo.

    Divulgação
    Vocalista Robert Plant dispensa reunião da banda
    Em comparação, os discos extras do segundo e terceiro álbuns parecem desinteressantes. Não que os fãs mais dedicados não tenham curiosidade em redescobrir faixas que já conhecem há tempos através de versões alternativas, mas dificilmente por essas versões serem motivo de atenção prolongada. Apenas duas faixas contabilizando os três discos extras são inéditas: “Key To The Highway/Trouble In Mind” e “La La”, que pouco acrescentam ao catálogo do Zeppelin.

    Relançamentos, sim. Shows, não
    O relançamento dos três primeiros discos faz parte de um projeto maior liderado por Page, que envolve todos os nove álbuns de estúdio da banda. Os próximos a serem lançados serão “Led Zeppelin IV” (1971) e “Houses of the Holy” (1973), previstos para chegarem às lojas no fim de outubro. Assim, os fãs poderão conferir versões alternativas de clássicos como “Stairway to Heaven”, “No Quarter”, “Rock and Roll” e “When the Levee Breaks”.
    Os outros quatro discos do Zeppelin serão relançados em 2015, em datas ainda não divulgadas. E mais materiais ao vivo devem estar contidos nesses relançamentos. Entretanto, por mais que esses relançamentos sejam bem-vindos, provavelmente a pergunta mais repetida nas últimas entrevistas dos membros do grupo seja justamente aquela que tem sido feita desde o “fim” da banda com a morte de John Bonham em 1980: o Zeppelin vai voltar a fazer shows? O último foi em 2007, em Londres, e gerou o filme-concerto e álbum “Celebration Day”, lançado no fim de 2012. Na ocasião, Page, Plant e Jones se juntaram ao baterista Jason Bonham, filho de John.
    Desde então, Page não tem escondido a vontade de juntar os quatro no palco enquanto ele, Jones e Plant ainda estão vivos e bem. Porém, parece que o único empecilho é o próprio Plant. Em entrevista recente, ele afirmou que Page devia “descansar”, e que “não era parte de uma jukebox”.
    Para os mais jovens (ou os que não foram sortudos de ir ao show de 2007), fica a tristeza de nunca poder ver uma apresentação ao vivo do Led com seus próprios olhos. Entretanto, a qualidade duradoura dos discos relançados e a quantidade de novos fãs deixam claro: o Zeppelin continua voando alto.

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