Muitas cicatrizes e nenhuma saudade - Elton Simões

Antônio Assis
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Não foi bonita a festa. Não deu para ficar contente. Flores não houve. Apenas ecos de um ano que acabou em outubro, ou que talvez jamais venha a acabar. Ano dramático, atípico, frustrante, até.

O país que entrou em janeiro contando com vitória no futebol e sonhando com mudanças chega ao ultimo trimestre dividido, frustrado, conflagrado. Não sem razão. Ninguém pode passar incólume apos três meses de um campeonato de arremesso de lama.

Na hipótese da existência de um fundo neste poço, assistiu-se talvez ao que exista de pior. Ou pelo menos o pior já visto. Tudo foi reduzido a uma coleção infinita de opostos. Sem espaço para o meio termo, a razão ou mesmo a ponderação.

A vida virou um jogo de futebol que nunca termina. Um “nós” contra “eles” sem que, em qualquer momento, ficasse claro quem eram os “eles” e, principalmente o que pensam e porque deve- se ser contra. Ou a favor.

Apostas feitas, não houve espaço ou disposição para dialogo ou consenso. Foi desperdício de tempo, recursos, ideias e até de meios. A tecnologia, que em visão benigna, serviria para promover a comunicação eficaz transformou- se em campo de batalha. Seguramente, a verdade foi a primeira vitima. Mas existiram outras.

A civilidade foi perseguida e, quando possível, eliminada. As conversas, se é que merecem este nome, foram conduzidas por grupos com pouco a falar e absolutamente nenhuma disposição a ouvir.

Este ano que começa antes do tempo ou que talvez jamais venha a terminar vê uma nação dividida, cheia de conflitos, duvidas. Sem lideres, sem ideias, propostas, ou respostas. Falta consenso. E interesse em sua busca.

Os custos da vitória e o preço da derrota estão evidentes na ausência de dialogo e no excesso de interesses mesquinhos onde paixões, preconceito, medo, fantasia, violência, estratégias falidas, e golpes de sorte se combinaram e se completaram formando uma nação dividida onde somente um lado pode vencer. Estas eleições deixam muitas cicatrizes e nenhuma saudade.


Vai pela janela a utopia do entendimento pelo dialogo. Triste. Como toda ilusão que acaba.

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