Não foi bonita a festa. Não deu para ficar contente. Flores não houve. Apenas
ecos de um ano que acabou em outubro, ou que talvez jamais venha a acabar. Ano
dramático, atípico, frustrante, até.
O país que entrou em janeiro contando com vitória no futebol e sonhando com
mudanças chega ao ultimo trimestre dividido, frustrado, conflagrado. Não sem
razão. Ninguém pode passar incólume apos três meses de um campeonato de
arremesso de lama.
Na hipótese da existência de um fundo neste poço, assistiu-se talvez ao que
exista de pior. Ou pelo menos o pior já visto. Tudo foi reduzido a uma coleção
infinita de opostos. Sem espaço para o meio termo, a razão ou mesmo a
ponderação.
A vida virou um jogo de futebol que nunca termina. Um “nós” contra “eles”
sem que, em qualquer momento, ficasse claro quem eram os “eles” e,
principalmente o que pensam e porque deve- se ser contra. Ou a favor.
Apostas feitas, não houve espaço ou disposição para dialogo ou consenso. Foi
desperdício de tempo, recursos, ideias e até de meios. A tecnologia, que em
visão benigna, serviria para promover a comunicação eficaz transformou- se em
campo de batalha .
Seguramente, a verdade foi a primeira vitima. Mas existiram outras.
A civilidade foi perseguida e, quando possível, eliminada. As conversas, se é
que merecem este nome, foram conduzidas por grupos com pouco a falar e
absolutamente nenhuma disposição a ouvir.
Este ano que começa antes do tempo ou que talvez jamais venha a terminar vê
uma nação dividida, cheia de conflitos, duvidas. Sem lideres, sem ideias,
propostas, ou respostas. Falta consenso. E interesse em sua busca.
Os custos da vitória e o preço da derrota estão evidentes na ausência de
dialogo e no excesso de interesses mesquinhos onde paixões, preconceito, medo,
fantasia, violência, estratégias falidas, e golpes de sorte se combinaram e se
completaram formando uma nação dividida onde somente um lado pode vencer. Estas
eleições deixam muitas cicatrizes e nenhuma saudade.
Vai pela janela a utopia do entendimento pelo dialogo. Triste. Como toda
ilusão que acaba.