EUA: Confrontos se espalham após júri liberar policial que matou jovem negro

Antônio Assis
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BBC Brasil

Protestos se multiplicaram no Estado americano de Missouri depois que um júri decidiu não acusar o policial Darren Wilson pela morte do jovem negro Michael Brown, de 18 anos, em agosto passado.


Manifestantes queimaram veículos e edifícios e saquearam lojas. A polícia usou gás lacrimogêneo para tentar conter os manifestantes.

O presidente americano, Barack Obama, afirmou em um pronunciamento na segunda-feira que a raiva da população com a decisão judicial é "compreensível", mas pediu que os protestos fossem realizados de maneira pacífica. Também solicitou à polícia que lide com as manifestações com "cuidado e moderação".



Mesmo assim, diversos estabelecimentos comerciais foram saqueados e ao menos uma loja de departamentos, um restaurante, uma farmácia e um carro da polícia foram incendiados.

Tropas de choque equipadas com blindados para controle de multidões lançaram jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral contra a multidão. Os manifestantes arremessaram pedras e garrafas em direção às forças policiais. Os conflitos se estenderam pela madrugada.
O jovem Michael Brown foi morto por Darren Wilson em 9 de agosto, durante uma ação policial na cidade de Ferguson. O episódio deu início a uma semana de intensos conflitos entre manifestantes e policiais.

O caso deu início a um processo judicial que culminou na noite da segunda-feira (madrugada de terça-feira no Brasil) com a decisão de um júri por não acusar o policial.

Segundo a polícia local, as manifestações iniciadas na noite de segunda-feira são "muito piores que a pior noite que tivemos em agosto". Mais de 150 disparos de armas de fogo teriam sido registrados.


Decisão

Enquanto o júri se reunía na cidade de Clayton, uma multidão se agrupava em frente à sede da polícia em Ferguson, um subúrbio de St. Louis, acompanhando as notícias através de rádio e telefones celulares.



O promotor do condado de St Louis, Bob McCulloch, anunciou a decisão por volta das 20h15 locais (0h15 de Brasília). "Darren Wilson não será acusado em conexão com a morte de Michael Brown ocorrida em 9 de agosto em Ferguson", afirmou McCulloch.



Segundo ele, o júri trabalhou "intensamente" durante os últimos meses e encontrou inconsistências no depoimento das testemunhas que incriminavam Wilson.

"Não há dúvida de que Darren Wilson matou Michael Brown. Darren Wilson foi o agressor inicial. Mas foi autorizado a usar força letal em autodefesa", afirmou McCulloch.

Na segunda-feira, a Justiça americana tornou público o processo de mais de mil páginas que trata do caso. Em depoimento, Wilson afirmou que Brown o empurrou para dentro do carro da polícia, golpeou seu rosto e tentou apanhar a arma do policial.


O júri era responsável por decidir se Wilson deveria ser acusado de quatro possíveis crimes: assassinato em primeiro grau, assassinato em segundo grau, homicídio doloso ou homicídio culposo.



Pelo menos nove dos 12 membros do júri deveriam ter votado 'sim' para que o policial fosse acusado. O grupo era formado por 12 cidadãos escolhidos aleatoriamente – seis homens brancos, três mulheres brancas, um homem negro e duas mulheres negras.



Tensão racial



O caso trouxe à tona a tensão racial nos Estados Unidos, com ativistas afrodescendentes exigindo a condenação de Wilson por assassinato.



A polícia afirmou que Brown lutou com o policial e o agrediu (a foto de um hematoma no rosto do policial chegou a ser divulgada) antes de a vítima ser baleada.



Do lado de fora da delegacia, a mãe de Brown chorou após o anúncio da decisão. A família depois divulgou uma nota afirmando que ficou "profundamente desapontada que o assassino de seu filho não vá enfrentar a consequência de suas ações".



A confusão começou logo depois do anúncio da decisão. Tiros foram disparados e a multidão começou a vandalizar carros de polícia. Ao menos um veículo foi depredado e incendiado.



A onda de protestos se espalhou por outros Estados americanos. Manifestantes saíram às ruas em Los Angeles, Filadélfia e Nova York. Na Califórnia, grupos de ativistas bloquearam ruas e estradas.



Os manifestantes gritavam: "mãos ao alto, não atire", em alusão às declarações de algumas testemunhas que disseram que Brown estava rendido e com as mãos para o alto quando foi baleado pelo policial.



Em seu pronunciamento, Obama afirmou que há uma "grande desconfiança" entre as forças de segurança e as comunidades de negros nos Estados Unidos. Mas ressaltou que sua opinião não altera a decisão judicial. O presidente pediu aos americanos que aceitem a decisão do júri.



Obama e a família de Brown também pediram calma aos manifestantes.



"Juntem-se a nós em nossa campanha para que todo policial nas ruas desse país use uma câmera acoplada a seu corpo. Nós respeitosamente pedimos que vocês, por favor, protestem pacificamente. Responder à violência com violência não é a reação mais apropriada", afirmou a família do jovem em nota.



"Junto com os pais de Michael, peço que quem queira protestar que proteste pacificamente. Faço um apelo às forças de segurança de Ferguson por cuidado e moderação ao agir contra protestos pacíficos", afirmou Obama.

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