Cais de Santa Rita vira acampamento de famílias no Nata

Antônio Assis
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Marcionila Teixeira
Diario de Pernambuco


Uma multidão de crianças e adultos tem deixado suas casas, na comunidade do Coque, no Recife, para montar acampamento na altura dos armazéns do Cais de Santa Rita, no bairro de São José, até as festas de Natal. Sentados em colchões velhos distribuídos nas calçadas repletas de lixo e com odor de fezes buscam doações, como roupas, brinquedos e alimentos. Os produtos são deixados a qualquer hora do dia por motoristas comovidos com as cenas de miséria.

Um casal com 19 anos ambos e sua filha de apenas 4 meses chegaram ao local no último dia 1º. Somente devem deixar as ruas e voltar para casa em 28 de dezembro, quando as doações ficam escassas. “Já ganhei fralda, roupa, feira”, conta o jovem sorridente, com o bebê nos braços. A mulher dele completa: “A gente dorme aqui mesmo na calçada. Tem rato e muriçoca não”, garante. Logo em seguida, deita-se em um pedaço de espuma que um dia foi colchão para amamentar o bebê ao relento. Contam que é filha única.

Mais adiante, nos semáforos, outras crianças se misturam aos adultos. Limpam para-brisas em pleno sol de meio-dia. Um menino da altura da janela do carro aproxima-se e lança água no vidro. A criança é tão pequena que o rodo usado na tarefa não alcança o objetivo. Ele conta que não sabe a idade. Diz que estuda, mas está de férias. Perto dele, uma menina com cerca de 11 anos também aborda os motoristas para limpar os veículos. Em certo momento, usa a água da garrafinha aplicada na lavagem dos carros para matar a sede e refrescar a cabeça. 



Grávida de oito meses de uma menina, Carolina dos Santos, 20, também limpa para-brisas. “Fico aqui das 8h até as 19h. Tem dia que consigo R$ 15”, calcula. Carolina tem um filho de 4 anos, mas conta que ele fica em casa com uma vizinha. “O Conselho Tutelar tem que vir aqui para ‘regular’ essas mães. Tem um bocado delas que fica deitada na calçada enquanto os meninos ‘botam mola’ limpando carro. Eu mesma não trago meu filho pra cá”, desabafa. Enquanto a calçada serve de cama, o banheiro do terminal de ônibus é usado para as necessidades fisiológicas.

Crime
O juiz da 2ª Vara da Infância e Juventude, Élio Braz, lembra que exploração de crianças para mendicância é crime previsto no Código Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente. O trabalho também é proibido a menores de 14 anos, a não ser na condição de aprendiz. “A solidariedade deve ser expressada de forma responsável. É preciso saber a quem doar e se a doação chega à criança”, destacou.

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