Os descaminhos do BRT

Antônio Assis
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Tiago André Santos
Folha-PE

Previstos para melhorar a mobilidade de mais de 300 mil pessoas por dia, os corredores do novo modal de transporte público da Região Metropolitana do Recife (RMR), o Bus Rapid Transit (BRT), segue representando mais um complicador para o trânsito já caótico. Antes da conclusão das estações de embarque e desembarque e a segregação dos corredores Norte-Sul e Leste-Oeste, o projeto já ficou marcado pelos erros de concepção.
Em diversos trechos, os corredores, por conta da largura das vias, não possuem espaço para que haja a segregação de pistas. O resultado disso são os coletivos articulados do modal dividindo o espaço com os demais ônibus e o restante do tráfego comum.
Só esse ponto já representa uma total quebra da característica fundamental do sistema, as viagens rápidas sem interferências. Locais como a praça do Derby são emblemáticos para evidenciar a conturbada relação entre o BRT e o restante do trânsito. No momento que os ônibus param nas estações de embarque e os coletivos convencionais nas plataformas das laterais, os carros de passeio têm poucas opções e o fluxo fica comprometido.
Os condutores de automóveis precisam redobrar os cuidados para passar. Carros maiores, como caminhonetes, por exemplo, não têm como cruzar o corredor. “Vejo muitos retrovisores quebrados, pois os carros tentam passar pelo meio e não há espaço suficiente. Mesmo que o ônibus pare bem próximo da calçada, ainda assim não tem como um carro maior seguir”, afirmou o comerciante Ezequias Gouveia, 44 anos, que possui um fiteiro na plataforma de embarque do Derby.
“O transporte público deve ter a prioridade no sistema viário, porém o problema no projeto adotado pelo Governo do Estado é a escolha do modelo. O BRT já nasce morto. Tem capacidade de transportar até oito mil pessoas por sentido em uma hora, porém existem locais que a demanda estimada já chega a até 30 mil passageiros”, apontou o engenheiro civil, especialista em engenharia de tráfego, Stênio Cuentro.
Não são apenas os motoristas comuns e especialistas que criticam o modal, taxistas continuam a reclamar da impossibilidade de não poder circular nos corredores do BRT. “Hoje o BRT só está atrapalhando o trânsito. O exemplo disso é a avenida Caxangá. Enquanto tem uma faixa livre que passa ônibus uma vez ou outra, ficam outras duas, inclusive com muitos ônibus retidos em quilômetros de trânsito parado”, disse o taxista Ismar Guedes, 43 anos.
Segundo o diretor de Planejamento do Grande Recife Consórcio de Transporte, Mauricio Pina, o BRT foi a opção mais acertada pelo governo na época, pois representava o modelo que iria garantir o deslocamento dos usuários num tempo mais rápido do que o VLT, por exemplo. “O governo tinha que revolver um problema que se tornou prioritário e optou por esse modelo”. O gestor destacou que a concepção do VLT, que requer a utilização de trilhos, necessitaria de um tempo muito maior de maturação para a implantação do projeto. Também ressaltou que o modal BRT não é algo acabado e que é fundamental a segregação para dar prioridade ao transporte.

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