Especialistas pedem que pais não "abandonem" os filhos no mundo virtual

Antônio Assis
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Portal UAI

Muitos pais ensinam os filhos a não conversarem com estranhos na rua e a não dizer o nome nem o endereço. No entanto, o mesmo cuidado não é tomado em relação ao mundo virtual. O promotor de Justiça Thiago Pierobon, coordenador do Núcleo de Direitos Humanos do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), ressalta que a criança não pode ser %u201Cabandonada%u201D no mundo virtual. %u201CÉ muito importante que os pais, os professores, as pessoas que têm a guarda das crianças e dos adolescentes estejam mais envolvidas no sentido de não deixarem essas crianças abandonadas no mundo virtual, que elas estejam sob supervisão.%u201D

Segundo ele, as novas mídias sociais, como o Facebook e, mais recentemente, o Whatsapp, associadas ao aumento do número de aparelhos celulares com acesso à internet potencializam as relações sociais exigindo uma maior atenção por parte dos pais ou responsáveis pelas crianças e adolescentes.

Permitir que eles utilizem tablets e computadores com acesso à internet sem supervisão aumenta o risco de que um adulto mal intencionado obtenha fotos e gravações e acabe compartilhando esse conteúdo na rede, diz o promotor.

Os especialistas são unânimes em relação à importância da informação no combate às novas formas de violação sexual praticadas pela internet, mídias sociais e pelo compartilhamento de fotos íntimas.

A professora Gina Vieira Ponte Albuquerque diz que percebeu, em sala de aula, que falta informação para os adolescentes e que muitos não têm noção do que estão fazendo quando se expõem em fotos provocantes ou de apelo sexual. %u201CSe vai ou não postar um selfie com conotação sexual é importante que eles sejam conscientizados sobre os desdobramentos, a gente pensa que isso é óbvio, mas não é%u201D, destaca.

Para Juliana Cunha, da organização não governamental Safernet, as crianças e os jovens têm que aprender a ser responsáveis. "O desafio da nova geração é vivenciar os contatos e namoros na internet com responsabilidade. A partir do momento que você envia uma imagem, você perde o controle sobre ela.%u201D

Os conselhos sobre os perigos das ruas devem valer também para o mundo virtual, na opinião da advogada e idealizadora do Movimento Família Mais Segura, Patricia Peck. Ela alerta que a segurança das crianças e dos jovens começa pela informação. %u201CCoisas simples. O pai ou a mãe olhar de vez em quando o computador do filho, fazer uma busca no Google colocando o nome do filho, sentar do lado para ver quem são os amigos digitais e que fotos estão sendo tiradas e compartilhadas%u201D, exemplifica.

%u201CSe fechamos a porta da rua de nossa casa todos os dias para evitar os perigos do mundo que nos cerca, devemos também fechar a outra porta, a do mundo digital%u201D, avalia.

Além de zelar pela segurança dos filhos, os pais devem saber como funcionam os recursos que fornecem às crianças. %u201CÉ como um brinquedo que você procura saber se é seguro, se está na idade adequada, lê as instruções para explicar as regras. O mesmo acontece na internet, os pais devem aprender a utilizar as mídias sociais, ler o termo de uso antes de permitir o acesso dos filhos%u201D, defende Patrícia.

Segundo ela, a idade mínima para entrar no Facebook e no Instagram, de acordo com o termo de uso, é 13 anos. Para o aplicativo Whatsapp, 16 anos e para o Youtube, somente aos 18 anos.

Para os especialistas ouvidos pela reportagem, além da prevenção é preciso também quebrar as barreiras que impedem que esse tipo de violação venha à tona, ou seja, é preciso denunciar. Para eles, o silêncio é aliado da violência esteja ela no mundo real ou virtual.

Caso a criança ou o adolescente seja vítima de alguma violação por meio da internet, é preciso agir rápido, dizem os especialistas. É necessário procurar uma delegacia e um órgão especializado em crime na internet e evitar deletar posts ou mensagens para não comprometer as provas.

O presidente da Comissão de Informática e Direitos Eletrônicos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Minas Gerais, Luiz Felipe Freire, ressalta que o Marco Civil da Internet ajudou a combater os delitos na rede e a diminuir os danos. A norma estabeleceu regras para punir o autor do crime, ou seja, a internet é uma terra com leis.

No Brasil alguns estados, como o Rio de Janeiro, têm grupos especializados no combate a crimes cibernéticos. %u201CA partir das informações que nós obtemos de crimes praticados pela internet nós buscamos os dados dos usuários que fizeram a publicação e rastreamos os responsáveis tentando identificar o autor do crime%u201D, explica o procurador Rafael Antônio Barreto, destacando que o avanço na legislação permite que as investigações sejam feitas de modo eficiente.

Segundo o promotor Thiago Pierobom, o desafio hoje não é mais a legislação e sim, a prevenção. %u201CO nosso grande desafio hoje é aparelhar o Estado e realizar campanhas educativas adequadas para a prevenção desse tipo de violação de direitos%u201D, destacou.

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