LÍDER DO PT: ‘PRECISAMOS VIRAR A PÁGINA DO AJUSTE’

Antônio Assis
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Gisele Federicce, 247 – As iniciativas lançadas recentemente pelo governo federal em prol da retomada do crescimento econômico precisam ser comunicadas com maior destaque à sociedade. A avaliação é do líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), que ressalta que "precisamos virar a página do ajuste fiscal" e focar nas propostas que compõe o programa de governo do Partido dos Trabalhadores.

"Temos que superar a crise política, que é a mais pesada. Isso se faz pelo diálogo, pelas posições afirmativas, pela tentativa de desanuviar o ambiente", avaliou o parlamentar. Costa disse ler o resultado da última pesquisa Ibope, que apontou aprovação de 9% ao governo de Dilma Rousseff, "com preocupação", mas ao mesmo tempo com "perspectiva de que haja uma recuperação".

O senador negou qualquer afastamento entre o ex-presidente Lula e o PT ou a presidente Dilma, algo que ficou claro, segundo ele, nas conversas que Lula organizou com as bancadas da Câmara e do Senado nos últimos dias, mas reconheceu que "todos nós temos posições de sintonia com o governo e em outro momento temos posição de questionamento, isso é parte do processo político".

O petista criticou ainda os vazamentos seletivos da Lava Jato à imprensa e disse que existe "um interesse político nisso". "Não vou dizer que o processo todo está assim, mas obviamente que há uma diferença de quando há um tucano citado e quando tem uma pessoa do PT", comparou. Nesta sexta-feira 3, o juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da investigação, defendeu "divulgação ampla" do caso.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Como o senhor lê a última pesquisa Ibope, que mostrou a aprovação do governo em 9%, o pior índice desde o governo Sarney?

Pessoalmente eu leio com preocupação, porque significa claramente que nós não estamos conseguindo fazer chegar às pessoas a mensagem do governo, as mudanças que o governo já fez em termos de perspectiva econômica ainda nesses primeiros seis meses do ano e, ao mesmo tempo, eu enxergo uma perspectiva de que haja uma recuperação, que ainda não começou porque falta a parte de o governo animar a sociedade, um diálogo com a sociedade. Em um mês, junho, tivemos o Programa de Investimento em Infraestrutura Logística (PIL), o programa de exportações, o Plano Safra, o Plano Safra de Agricultura Familiar, várias iniciativas políticas importantes que vão no caminho oposto ao do ajuste e o governo continua no discurso do ajuste. Precisamos virar essa página, que a Dilma assuma um papel de liderar, um papel de conquista para aquilo que vem a ser nosso programa de governo.

Enquanto a presidente esteve nos Estados Unidos, o ex-presidente Lula se reuniu com bancadas do PT na Câmara e no Senado e com lideranças do PMDB. O que avançou nessas conversas?

As conversas foram bastante positivas, primeiro para eliminar qualquer tipo de ruído que pudesse haver dando conta de que a relação dos dois, ou dele com o PT, pudesse estar num nível de conflito, ou que pudesse estar havendo um afastamento. Quem apostou que ele iria aprofundar qualquer tipo de distensão com o governo se equivocou. Por si só esse fato aí já foi muito bom, muito importante para nós. Ele cumpriu o papel de mostrar que é nosso dever informar que estamos vivendo outro momento, estamos agora investindo naquilo que é o nosso programa, o crescimento, a distribuição de renda, e ao mesmo tempo conclamar para que cada um de nós assuma o seu papel no sentido de fazer a defesa do governo, o enfrentamento da oposição.

A imprensa tem divulgado muitas declarações atribuídas a Lula, com críticas à atuação de Dilma. O ex-presidente tem realmente se aborrecido com falas ou decisões da presidente?

Obviamente que todos nós temos posições de sintonia com o governo e em outro momento temos posição de questionamento, isso é parte do processo político, principalmente de um partido que é plural. Agora entre ter opiniões divergentes, poder discordar de algumas questões a ter um afastamento do governo vai uma grande diferença.

Alguns petistas têm apontado abusos em operações da Polícia Federal e pedido explicações ao ministro José Eduardo Cardozo. Você faz parte desse grupo? Defende que o ministro dê explicações ao partido?

A sociedade, a OAB, os partidos... se manifestarem em favor de cobrar do ministério [da Justiça] uma posição mais forte quanto a supostos abusos que possam ter sido cometidos. Não me parece um ataque ao trabalho do ministro. Ao contrário, quando fazemos isso estamos dando a ele até mesmo mais legitimidade para interferir em condutas inadequadas que segmentos da Polícia Federal possam estar tendo. Somos apoiadores incondicionais da PF, do seu trabalho, mas qualquer instituição aqui no Brasil tem segmentos de políticos, tem vínculos partidários. E o mais importante é que independentemente de quem seja investigado, a constituição seja a referência para esse trabalho. Se há quem ache que pode estar havendo algum tipo de abuso, nada mais natural do que o ministro para ver se não vai na linha de fragilizar.

Você acha que o ministro Cardozo deve deixar o cargo?

Não acho que seria bom, até pelo fato de que ele é um bom ministro da Justiça, tem feito seu trabalho adequadamente. Agora isso não significa que ele não possa receber sugestões. Acho que ele não tem que sair não, tem que continuar.

Essa semana o senador Aécio Neves (PSDB-MG) anunciou uma ação da oposição junto à PGR contra Dilma e o ministro Edinho Silva por "extorsão". A campanha para tirar Dilma do poder vem se intensificando. Acha que isso realmente pode acontecer?

Naturalmente que a oposição, especialmente o presidente do PSDB, como tem poucas chances de ser o candidato do PSDB em 2018, ele quer de todas as maneiras antecipar o fim do mandato da presidenta Dilma, para poder aproveitar o recall da eleição passada e ser beneficiado com o impedimento de outros nomes do PSDB de serem candidatos. Ele vai continuar liderando um segmento golpista que existe no PSDB – não vou dizer que é todo o PSDB – e outros partidos para tentar conseguir o impedimento da presidenta. Mas entendemos que não há razão para isso, não há motivação política, jurídica que justifique. Queremos que eles se enfrentem na democracia, não pode querer derrubar uma presidente eleita democraticamente.

O que você acha que precisa ser feito pelo governo para responder à crise política e também econômica?

Temos que superar a crise política, que é a mais pesada. Isso se faz pelo diálogo, pelas posições afirmativas, pela tentativa de desanuviar o ambiente. Por outro lado, para mudarmos a percepção da sociedade sobre a economia, que está muito marcada por um pessimismo artificial – no Brasil se criou um pessimismo artificial na economia, basta olhar as visões que outros países têm sobre o Brasil, basta ver essa visita dos EUA – temos que desfazer esse ambiente de pessimismo. A pessoa mais adequada, mais legitimada [para isso] é a própria presidenta Dilma. Até porque ela já apresentou um conjunto de ações para que o país volte a crescer.

As ações estão sendo mal divulgadas, então?

Não estão tendo continuidade na colocação do debate na ordem do dia. Se fala em um evento no Palácio do Planalto e depois não se fala mais nada. Ao contrário, tem que se falar sempre.

Sobre a Lava Jato, o senhor acredita que há vazamentos seletivos, como disse a presidente Dilma em Nova York, e uma campanha para atingir o PT?

Obviamente que tivemos aí vários episódios onde acontecem vazamentos e ficou claro que havia um objetivo político nisso. Não vou dizer que o processo todo está assim, mas obviamente que há uma diferença de quando há um tucano citado e quando tem uma pessoa do PT. Se existem as delações, por que não se publica isso tudo em vez dessas divulgações em partes, pela imprensa? Se a imprensa tem, é porque alguém teve acesso.

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