Clériston lança livro com charges sobre ditadura

Antônio Assis
0
Detalhe de charge de Clériston

JC Online

Dentro da esfera da comunicação, as charges e tirinhas foram um dos formatos mais combativos à censura da ditadura militar. Em tempos de exaltações desavergonhadas a torturadores em pleno Congresso Nacional, falar com seriedade, crítica e um pouco de humor sobre o tema permanece urgente. Em Minha Verdade sobre a Ditadura em 64 Charges (R$ 25), lançada neste sábado, às 18h, no Boteco Porto Ferreiro, o chargista Clériston Andrade recupera suas memórias e suas criações feitas durante o período da repressão e o início da redemocratização.

A obra mistura as charges combativas, que criticam Geisel, Marco Maciel, Figueiredo e Delfim Neto, com pequenos relatos do autor sobre a época. São assim, ao mesmo tempo, um documento e um testemunho de como a ditadura foi além da repressão à esquerda: seu poder atingia a liberdade de expressão. “O livro é um relato crítico. É a minha verdade. Como as verdades são relativas, é o meu ponto de vista de como vivi os anos entre 1976 e 1986”, sintetiza o chargista.

A obra foi pensada para ser lançada nos 50 anos da ditadura, mas problemas com o Funcultura a atrasaram. O momento não deixou de ser oportuno. “Nessa divisão entre ‘coxinhas’ e ‘mortadelas’, você vê alguém dizendo em redes sociais que era ‘bom que os militares voltassem’. As pessoas pensam que a ditadura só perseguiu uma parte da população, mas ela atingia os jornais, atingia todos”, avalia o cartunista.

Se ironizava os políticos do período, Clériston também falava dos principais crimes do Estado: a tortura e os presos políticos. Segundo ele, a falta de informação sobre o momento impedia parte da população de ver que vivia em uma ditadura. Hoje, o que o impressiona é que, mesmo com uma vasta gama de notícias e dados, as pessoas fazem acusações falsas. “A ideia de que alguém, por discordar de você, é petista ou recebe dinheiro do governo é fruto disso”, analisa.

Além de ser um relato sobre a ditadura, Clériston afirma que o livro serviu involuntariamente como uma avaliação pessoal da sua trajetória. “Noto que está ali minha formação de esquerda”, explica. Além disso, também serviu para relembrar o autor de como era um período tenso nas redações de jornais. Havia listas de palavras e assuntos proibidos, por exemplo. “Quando eu trabalhava com Raimundo Carrero, ele era o responsável por fechar o jornal de segunda. Sempre mostrava as charges para ele autorizar. Carrero não queria para si o papel de censor, então nunca olhava direito, autorizava de antemão. E eu só queria saber se estavam engraçadas”, diverte-se Clériston. Seu plano é levar o livro para debates e eventos em escolas e universidades interessadas.

Postar um comentário

0Comentários
Postar um comentário (0)