Gestão Temer: ministro vinculado à escuridão

Antônio Assis
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Josias de Souza

Se Michel Temer não acordar, vai chegar uma hora em que a paciência dos brasileiros, dos quais 58% já não o queriam na Presidência, se esgotará. Quando parece que está tudo normalizado —o Romero Jucá afastado da Esplanada, o Ministério da Cultura recriado, nenhuma acusação nova feita contra o Eduardo Cunha na última meia hora, o Lula quieto, a seleção do Dunga derrotando o time do Panamá por 2 a 0, o impeachment da Dilma caminhando no Senado, as pessoas começando a se conformar com a peruca ridícula do Antonio Fagundes na novela—, surge mais uma gravação do Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.

A encrenca se insinua pela segunda semana. Temer faz um inventário de suas preocupações e pensa: “Hoje, finalmente, vou poder dormir mais tranquilo…”. E não pode. Tem que se preocupar com a nova gravação do delator Sérgio Machado, divulgada pelo Fantástico, em plena noite de domingo. Responsável pelo combate à corrupção, Fabiano Silveira, ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, foi gravado dando aula a suspeitos de desvio$ sobre como se livrar da Lava Jato. Advogado, Fabiano distribuiu seus ensinamentos ao próprio Machado e a Renan Calheiros, padrinho de sua nomeação para o ministério de Temer.

Quem saiu às ruas para pedir a cabeça de Dilma e repudiar a corrupção observa tudo o que houve em Brasília e se desespera com o que ouve nas gravações de Machado. Elas sugerem que Temer no poder é uma troca de seis por meia dúzia. Afastada a ladroagem do PT, assanhou-se a ladroeira do PMDB, que está obcecada pela ideia de asfixiar a Lava Jato, não de salvar o país. Não passa um dia sem que haja um novo problema no governo seminovo —como se não bastassem o André Moura, um triplo-réu na liderança do governo, e o Waldir Maranhão, um néscio multi-investigado no comando da Câmara.

Quando o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) está quase convencendo um pedaço do país de que conseguirá achar uma saída para a crise —ainda que tenha que procurar mais um pouco—, um novo áudio captado pelo Sérgio Machado despeja no noticiário as vozes do esgoto. É como se o governo tentasse consertar a torneira dos gastos públicos e estourasse a privada. Ou Temer afasta Fabiano Silveira da poltrona de ministro ou o odor será insuportável ao final desta segunda-feira.

Na semana passada, um dia depois da saída de Jucá da pasta do Planejamento, Temer reuniu os líderes partidários para pedir empenho no Congresso. Ao abrir o encontro, declarou, batendo na mesa: “Ouvi aqui: ‘O Temer está muito frágil, coitadinho, não sabe governar.’ Conversa! Fui secretário de Segurança Pública duas vezes em São Paulo e tratava com bandidos. Sei o que fazer no governo e saberei como conduzir.” Será? Entregar o Planejamento a um enrolado na Lava Jato, a liderança do govenro a um suspeito até de tentativa de homicídio e a pasta anti-corrupção ao afilhado de Renan não parecem bons prenúncios.

Vivo, Cazuza diria a Temer: “Tuas ideias não correspondem aos fatos. Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades.” No gogó, Temer é um defensor da Lava Jato. Na prática, chefia um governo apinhado de suspeitos e cúmplices. E os problemas não param. Na semana passada, Temer tentou apagar outro pavio. Indagou ao ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, também investigado na Lava Jato, se não seria o caso de deixar a Esplanada. O amigo não se deu por achado. O governo parece ter perdido a noção do perigo. Brinca com os nervos dos brasileiros. Ssssssssssssssssssssssssss

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