“Manter operação é desafio", diz superintendente interino do metrô

Antônio Assis
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Luiz Filipe Freire
Folha-PE

Servidor do metrô desde o período de sua implantação, na década de 80, o engenheiro mecânico Leonardo Villar Beltrão recebeu, na manhã desta quarta-feira (25), a missão de assumir interinamente a superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife.

Com a experiência de ter chefiado várias gerências da empresa, como a de Obras, até agosto de 2015, o novo gestor prega o enfrentamento da crise de forma realista. Destaca a necessidade de manter o básico - a operação dos trens -, mas, por conta do orçamento apertado, não firma prazos para outras demandas urgentes, como o reforço da segurança nas estações e nos trens. Beltrão, no entanto, enfatiza: a preocupação em passar o sistema a limpo nas próximas semanas indica que o Governo Federal vai passar a olhar o metrô de outra forma.

Como o senhor encara o desafio de assumir a direção do Metrô do Recife num momento em que o sistema enfrenta tantas dificuldades?

"Quando recebi a notícia do ministro [das Cidades, Bruno Araújo, PSDB], disse que era uma missão espinhosa, porque a situação do metrô é de muita degradação. É algo que já vem de anos. Mas me coloquei como funcionário público que sou, desde 1983 no sistema. Estou desde o início do projeto de implantação, na década de 80. Fui um dos primeiros de uma leva de engenheiros que começaram no metrô do Recife. Vi a implantação da Linha Sul, a compra dos novos trens [em 2013]. Passei por várias áreas da manutenção. Enfim, coloquei isso à disposição".

Como fica o sistema a partir de agora? Por onde começar?

"A mim foi pedido que fizesse um levantamento da empresa, um levantamento realista. Minha missão é fazer um planejamento até que se chegue à conclusão de qual vai ser o quadro definitivo da empresa. Não discutimos isso em detalhes ainda, mas vai se tratar de um planejamento de ações, do que pode ser feito, do que deve ser feito. Acho que continuar a operação do metrô é o grande desafio.

Já temos trens parados, inclusive, da frota nova, por falta de sobressalente [peças para reposição]. São peças difíceis, porque não são peças que se encontra na prateleira. Ou seja, são três trens novos que já estão parados e vários da frota antiga também, de uma frota de 40 trens. É algo que compromete muito a operação do sistema. Tem dia em que só conseguimos colocar 15 trens, 12 trens. É uma situação muito crítica. Como trabalhei muito tempo nessa área, vou atuar pessoalmente com o corpo técnico sobre essa situação".

Há algum prazo para a realização desse levantamento?

"Acredito que dentro de 15 dias ou, para um estudo mais detalhado, dentro de um mês".

Representantes do Sindicato dos Metroviários receberam bem sua indicação para ocupar o cargo de superintendente, mas se preocupam com o que vem depois, com a escolha do superintendente titular. Defendem um nome técnico, como ocorreu agora. Como o senhor enxerga isso? Há o risco de o que for desenvolvido agora, no seu período de interinidade, acabar não sendo levado adiante?

"Vejo a questão do seguinte modo: o novo governo está preocupado com o metrô do Recife. Acho que uma das primeiras estatais do Ministério [das Cidades] a ter mudanças nos quadros foi a CBTU, e na CBTU, a superintendência do Recife. As outras superintendências ainda não tiveram mudanças. Então, acho que isso aconteceu justamente por causa dessa questão grave que temos aqui, de degradação. Houve pressa nesse sentido. O ministro é pernambucano, sabe dos problemas do sistema daqui".

O senhor falou que o maior desafio é manter o básico: a operação do sistema. Isso significa rever a possibilidade de os trens deixarem de atender aos usuários nos fins de semana, como se cogitou?

"A questão de parar aos sábados e domingos é basicamente de orçamento. Se não vier orçamento, não temos dinheiro nem para pagar a energia. Mas é uma coisa mais fácil de ser resolvida à medida em que se tenha orçamento. É diferente da manutenção, que vai exigir um período de licitação. Pode acontecer até de a operação ocorrer com menos trens, mas é algo que se resolve com a questão dos recursos de que o sistema precisa".

Este ano, o orçamento da CBTU no Recife foi reduzido a R$ 51,9 milhões, metade do necessário. Como isso vai ser contornado?

"A gente ainda depende de uma sinalização do ministério de como isso vai ficar. Acho que essa aprovação do déficit de R$ 170 bilhões é algo que facilita muito a vida no quesito recursos".

Há previsão de aumentar a tarifa, hoje em R$ 1,60?

"Não, não há previsão. Isso pode até fazer parte do levantamento que vai ser preparado, só que mais no sentido de ver quanto o sistema custa, qual seria a tarifa ideal. Mas elevar é uma questão complicada, porque envolve uma decisão política. Tem a parte estadual, municipal, federal, mexe muito com a sociedade".

O metrô vive dias de violência. No último fim de semana, um suspeito de assalto foi morto dentro de um vagão. Nesse novo cenário, já se pode indicar alguma medida concreta para barrar a criminalidade no sistema?

"Há um plano de segurança, algumas estratégias, mas que dependem do orçamento. Há a questão do distrato com a empresa de segurança terceirizada..."

Por falta de pagamento?

"Por falta de pagamento. Ou seja, são aspectos dos quais ainda precisamos nos inteirar. Ainda não tem como dar uma ideia de prazo, de quantitativo, de algum reforço ou de qualquer ação nesse sentido".

Costuma-se dizer que o sistema ferroviário no País vem sofrendo descaso após descaso. Os 400 mil passageiros diários do metrô do Recife podem esperar um posicionamento diferente na atual gestão?

"Digo que se trata de um patrimônio, que não pode mais ser tratado como vem sendo tratado. Estimo que para ter um metrô do porte do nosso teria que se investir R$ 20 bilhões, R$ 30 bilhões. É um equipamento caro, de difícil implantação, e a gente já tem isso implantado aqui. Poucas capitais do País têm metrô. O nosso é o terceiro maior do Brasil. Dentro da CBTU, é o maior. Ou seja, é um patrimônio da sociedade e tem que ser cuidado. Para a mobilidade, é muito importante. Vejo nesse governo que está entrando essa percepção, essa preocupação. É um equipamento que vale qualquer esforço".

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