Parentes buscam informações após morte de sete jovens na Funase de Caruaru

Antônio Assis
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Samu chega à Funase de CaruaruFoto: Clemilson Campos/Folha de Pernambuco

Folha-PE

"Nós temos o direito de saber como nossos filhos estão. Eu quero ter notícias dele", disse, nesta segunda (31), a mãe de um interno de 16 anos que está há 3 meses no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Caruaru, no Agreste do Estado, onde uma rebelião acabou com sete jovens mortos. Ela não quis se identificar.

Por volta das 13h30, um carro do Samu e outro do Sistema Penitenciário entraram no local. 

Fotografias enviadas para o WhatsApp do FolhaPEmostram um jovem mutilado - ele teve as duas mãos cortadas. Outros seis morreram carbonizados. Durante a rebelião os adolescentes queimaram colchões e destruíram móveis e objetos da unidade.

"Eu vim ontem aqui, sai de três horas da manhã e voltei. Até agora não tenho informação nenhuma. Ninguém fala nada, estamos todas muito preocupadas", afirmou a mesma mãe.

Segundo a Funase, a rebelião foi causada por brigas entre grupos rivais. As vítimas estavam nos alojamentos 1,2 e 4 que foram invadidos pelos agressores. A Polícia Militar disse ter controlado a situação na madrugada desta segunda (31). 

No início da tarde, o clima estava tranquilo no local. Poucos parentes dos adolescentes estavam do lado de fora em busca de informações. A recepcionista e irmã de uma das vítimas, Rosimere Magalhães, 22, comentou a morte do irmão, Célio Magalhães Correia, de 14 anos, que estava internado há dois meses no Case por participar de um arrombamento a uma loja, no município de Sanharó, no Agreste de Pernambuco. 

"Ele cometeu um arrombamento junto com outros garotos. A gente sabe que Célio fez isso coagido por meninos maiores e ele foi tratado como assassino. A justiça não se deu ao trabalho de ouvir a família e acredito que isso foi um descaso. Ele não merecia morrer por isso. Agora, a gente só pode contar com a justiça de Deus", comentou Rosimere. 

A irmã do jovem ainda relatou detalhes das instalações da unidade: "Quando a minha mãe chegou no Case, ele não tinha nem cama para dormir e dividia um ambiente minúsculo com outros três garotos. Ele sempre denunciava que sofria constantes agressões físicas quando precisava sair do quarto para as poucas horas de lazer", afirma. 

"Os internos têm acesso a armas e drogas. A gente sabe que lá não tem segurança nenhuma. Recebemos a notícia de madrugada e mandaram a família procurar o IML de Recife. Não recebemos assistência nenhuma", denuncia a irmã do adolescente. 

A tia de um rapaz de 17 anos questionou a situação dentro da unidade: "Toda vez que é para entrar aqui a gente fica pelada, é revistada. A gente não entra com nada. Não sei como encontram drogas aí dentro". A esposa de um interno de 17 anos que veio do Recife falou sobre a superlotação. "Meu esposo está numa cela com mais 7. É um quadradinho apertado que não tem espaço para nada", contou.
Uma sindicância será aberta para apurar o caso em, no máximo, 40 dias e os jovens suspeitos de praticar o ato infracional serão conduzidos para a Delegacia de Caruaru. 

A Funase de Caruaru tem capacidade para 90 jovens, mas 153 se encontram atualmente na unidade.

Timbaúba
No último dia 25 de outubro foi registrada uma rebelião na Funase de Timbaúba, Zona da Mata Norte. Ao todo, quatro adolescentes morreram. Segundo a Funase, o motivo da rebelião teria sido desavenças entre grupos rivais. Entre os jovens assassinados com golpes de armas artesanais e pedradas, dois de 17 anos e um de 18.

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