Sacrifícios inúteis - Carlos Chagas

Antônio Assis
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Devemos preparar-nos. Quando os ponteiros se reunirem, à meia-noite de sábado para domingo, quem estiver acordado na metade mais populosa do país, do Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, deverá adiantar seu relógio em uma hora. No mínimo cem milhões terão sido roubados em sessenta minutos. Para que? Para nada. Melhor dizendo, para confundir-nos. Porque o sol nascerá na mesma hora. Apenas, quem acorda às sete horas verá que são oito. Uma hora de sono foi-se com o vento.

O pior é que o novo horário vale para metade do território nacional. A outra metade seguirá como antes. Um baiano que trabalha em Minas atravessará a ponte certo de que iniciará sua jornada na hora certa, mas já estará descontado em sessenta minutos. Em compensação, ao voltar para casa, ficará sem ter o que fazer por uma hora, esperando o jantar que o estômago reclama mas a mulher levará igual tempo para servir.

Multiplique-se a situação para a ida e volta das crianças à escola, entre mil outras atividades, e se terá a receita de como o horário de verão perturba e irrita a população inteira, lá e cá.

Quase 150 milhões de reais serão economizados nas contas de luz de meio Brasil, porque não haverá necessidade de acender as lâmpadas quando a noite chegar. Ainda vai demorar uma hora. No reverso da medalha, será madrugada quando formos escovar os dentes e tomar café, de luz acesa, gastando outros 150 milhões...

Imaginava-se que em meio a tantas reformas anunciadas, o governo Temer se esquecesse do horário de verão, mas não teve jeito. Chega à meia-noite de sábado para domingo, prolongando-se até março.

O relógio biológico dissocia-se do calendário. Quando nos tivermos acostumado, será hora de atrasar os ponteiros, para nova temporada de sacrifícios inúteis. Povo rico é assim mesmo...

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