Lava Jato e novo formato interferiram

Antônio Assis
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Foto e Texto: Folha-PE

Os altos índices de abstenções, votos brancos e nulos denotam a apatia dos eleitores em relação ao sistema político e partidário brasileiro. A Operação Lava Jato - que denunciou o envolvimento de diversos nomes e siglas com atos criminosos - foi um dos motivos para a repulsa e descrença no sistema. Mas o novo formato das campanhas, com duração mais curta - de 45 dias, no primeiro turno, e 30 no segundo - e menos tempo de televisão e rádio - também contribuiu para a não compreensão do eleitorado.
O cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, acredita que estes índices se apresentaram menos por questões conjunturais e mais por estruturais. Segundo Barreto, a crise de representatividade ocorre por desgastes com os atores políticos, por causa da corrupção recorrente e do desempenho deles e também pela falta de programa dos partidos. No entanto, considera que o novo formato da eleição municipal teve consequências: “O encurtamento da campanha, com fragmentação do guia eleitoral e da forma de apresentação, também atrapalhou”, diz.

Quanto à Lava Jato, o sociólogo Victor Rodrigues, da Universidade Federal de Pernambuco, diz que, de fato, ela é um dos motivos para o desinteresse da população pela política. Outra consequência da Operação é “a criminalização da política”, afirma o cientista político Guilherme Reis, da UniRio. Reis destaca que existe o senso comum levantado pela Lava Jato e respaldado por setores da mídia, criminalizando o sistema, vendendo que ‘político é tudo ladrão’. “Isso provoca um desencanto profundo pela política, como consequência, observamos altos índices de votos brancos, nulos e abstenções”, diz.

Um dos produtos desta crise é o surgimento de políticos que se vendem como “não-políticos”. Caso do prefeito eleito em São Paulo, João Doria (PSDB). “Passou a ser uma virtude não ser político. Isso é (mais um) sinal que o sistema político-partidário está em descrédito”, afirmou.

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