Vítima de bala perdida assume cadeira na Câmara do RJ

Antônio Assis
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Luciana Novaes, vereadora eleita do Rio de Janeiro

Folha de S.Paulo – Ítalo Nogueira

A eleição de Luciana Novaes (PT), 33, como vereadora no Rio já provocou mudanças na Câmara Municipal. O histórico Palácio Pedro Ernesto, sede do Legislativo, teve de ganhar rampas para a passagem da nova parlamentar e sua cadeira de rodas.

Em 1º de janeiro ela fará sua estreia na vida pública, mas seu rosto já é bem conhecido. Novaes foi vítima de uma bala perdida que a deixou tetraplégica em 2003.

A campanha da petista foi modesta. Usou muito a internet para contar sua história, bem como sua rede de contatos nas entidades de pessoas com deficiência. Conseguiu superar a rejeição sofrida pelo PT este ano, que caiu de quatro para dois vereadores, e obteve 16 mil votos.

"Assim como eu tive coragem de sair de casa e me candidatar, creio que todas as pessoas deveriam fazer isso para mudar o cenário político. A corrupção está nas pessoas, não nos partidos", diz.

Filha caçula de um motorista de ônibus e uma merendeira aposentados de Nilópolis, na Baixada Fluminense, ela foi a única dos quatro irmãos a entrar na faculdade.

No dia 5 de março de 2003, aguardava o intervalo de duas provas do primeiro período do curso de Enfermagem na cantina do campus da Estácio de Sá no Rio Comprido (zona norte) quando traficantes do morro do Turano trocaram tiros com a polícia. Um dos projéteis entrou pela sua mandíbula e destruiu a terceira vértebra da coluna cervical.

Naquele dia, os criminosos da favela haviam ordenado o fechamento de todo o comércio da região. A Estácio manteve as portas abertas.

"Como estávamos em prova, não fui embora. Tinha uma bolsa de 50% e não podia perder a prova. Meus pais pagavam a faculdade para mim com sacrifício. Sempre fiz jus ao dinheiro deles."

Novaes permaneceu um ano e nove meses na UTI. Foi submetida a sete cirurgias. Ficou tetraplégica, mas conseguiu recuperar a fala, uma de suas vitórias na recuperação.

O envolvimento político, conta, começou ainda dentro do hospital. Ela se aproximou de parentes de vítimas de violência que pediam mudanças no Código Penal. Ajudou a coletar assinaturas na UTI.

"Aquilo me despertou o desejo de ajudar, interagir com as pessoas para melhorar o mundo", declara.

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