Adoção além das praças

Antônio Assis
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A praça Recanto Noite da Saudade, no bairro do Espinheiro, Zona Norte do Recife, está abandonada desde que um morador que atuava como síndico morreu
Foto: Felipe Ribeiro

Priscilla Costa
Folha de Pernambuco

Bancos para sentar, chão sempre limpo e até brinquedos para a criançada. As chamadas “praças adotadas” - espaços verdes sob responsabilidade de empresas ou de moradores - são uma boa forma de contribuir com o meio ambiente, além de estimular a própria comunidade a zelar por um espaço que é de todos e para todos.

Só que agora esse leque ampliou: quem quiser adotar uma área, seja pessoa física ou jurídica, não precisará optar necessariamente por uma praça. Canteiros centrais de avenidas, parques, jardins e até aqueles espaços ermos abaixo de viadutos podem virar lugares de convivência da população.

E não precisa fazer apenas serviços de manutenção. Com a sanção da lei 18.280, que revoga a anterior nº 15.906 de 1994, agora também é possível fazer obras de requalificação. A novidade foi publicada no Diário Oficial do Recife.

A iniciativa faz parte do Programa Adote o Verde, uma parceria entre a gestão municipal e a comunidade, cujo objetivo é estimular a manutenção das demais áreas verdes públicas da Cidade, além de ajudar o cidadão a ter uma responsabilidade ambiental. Segundo o secretário executivo de Infraestrutura e Serviços Urbanos do Recife, Tullio Ponzi, a ampliação da lei surge como uma forma de estimular as pessoas a estreitarem os laços com a região onde mora.

“Qualquer cidadão, associação de bairro, escola, estabelecimento bancário, comércio, sindicato, órgão público ou ONG pode participar. No caso de pessoas jurídicas e empresas, pode-se colocar uma placa, divulgando o nome da empresa. É publicidade para eles. Mas, o bom mesmo é que abrindo essa oportunidade, todos ganham”, observa.

Segundo ele, na Capital pernambucana estão disponíveis mais de 700 áreas para adoção. Ponzi citou como exemplos aqueles canteiros situados abaixo do viaduto da avenida João de Barros e as margens do canal em frente ao Shopping Parnamirim, ambos na Zona Norte.

“Ali, enxergo como excelentes potenciais de investimento”, avalia. Os convênios, ele explica, são muito simples e o contato é feito diretamente com a regional. A prefeitura e o cidadão dividem as responsabilidades para o adotante cuidar e manter as áreas verdes limpas. 

Nesse acordo, a função da gestão municipal é implantar projetos ou reformas necessárias, pagar contas de água e luz, convocar a Superintendência de Limpeza Urbana de Urbana (SLU) e permitir a colocação da placa. Já o cidadão atua na limpeza diária, na poda de plantas e na irrigação.

É assim que funciona na Praça Fleming, no bairro da Jaqueira, área nobre da Zona Norte do Recife. De segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, Rildo de Almeida Leão, 51 anos, zela pelo espaço. É assim há 11 anos, desde que os próprios moradores fundaram a Associação Amigos da Praça Fleming e contrataram seu Rildo, mais conhecido por todos como “Tomé”.

“Todos os dias é a mesma coisa. Chego cedinho para alimentar os peixes da lagoa, depois pego a vassoura e limpo a praça toda, junto o lixo dos cestos, dou água às plantas e semanalmente limpo o tanque dos peixinhos para tirar o lodo acumulado”, enumera. O motivo para estar nessa rotina há tanto tempo, ‘Tomé’ explica: amor. “Faço com um prazer danado. Muito bom ter esse contato com a natureza. Ouvir os pássaros logo cedinho. Cuido como se (a praça) fosse minha mesmo”, conta.

Porém, nem todas as áreas verdes recebem o mesmo cuidado de seu Tomé. No bairro do Espinheiro, também na Zona Norte, a praça Recanto Noite da Saudade deveria ser de responsabilidade do condomínio Galeão, mas desde que um morador que atuou como síndico morreu, o espaço ficou abandonado.

Foi ele quem estimulou a ideia de adotar a praça. Isso já faz 19 anos. É o que conta a porteira Severina Maria da Silva, 56. “A gente até varria e aguava as plantas, mas o novo síndico determinou que não cuidássemos mais para não deixar a portaria sozinha”, justifica. Hoje, quase não há verde na praça, os bancos estão pichados e o piso, quebrado. “É uma pena, porque essa praça já foi bem cuidada“, lamenta o assistente administrativo Cláudio Felipe Gomes, 30. Ele costuma descansar lá às tardes.

Competência
Competirá à Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) manter o cadastro atualizado das áreas verdes públicas sob sua administração e disponíveis para cooperação, contendo informações sobre seu estado de conservação, área ou extensão, equipamentos e mobiliários urbanos nelas existentes.

A convocação poderá ser feita pela gestão municipal por meio de chamamento público e o interessado deverá apresentar à Emlurb carta de intenção, indicando a área que pretende adotar e documento com as propostas de mudança.

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