Violência desmedida e por todos os lados

Antônio Assis
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Todos que passam pela avenida Dantas Barreto, no Centro, têm um relato para contar
Foto: Paullo Allmeida

Luiz Filipe Freire-Folha-PE

Rotineiro e perigoso nunca tiveram significado tão associado quanto nos últimos meses na Região Metropolitana do Recife (RMR). Ir à padaria, voltar de uma festa à noite ou descer do ônibus e caminhar até a residência são atividades que exigem, cada vez mais, cuidado e atenção dignos da caça à espera do ataque de um caçador. Só que em lugar da selva, ruas e avenidas são cenário da insegurança. Fatos recentes na Capital, como o roubo seguido de morte de um motorista do Uber, na Joana Bezerra, ou a tentativa de assalto a uma cirurgiã plástica, na Tamarineira, expõem o problema, piorado pela defasagem do efetivo da Polícia Militar, em operação padrão desde dezembro.

Na avenida Dantas Barreto, Centro do Recife, quem espera por ônibus nas paradas já sabe que tem que ter um olho na pista e outro em quem se aproxima pela calçada. Ladrões oportunistas, que se aproveitam de distrações das vítimas para furtar celulares e bolsas, são velhos conhecidos na região. A empresária Lindomar Teixeira lembra do trauma de ter sido roubada dentro de um ônibus - aliás, só entre terça-feira e ontem, foram 14 casos do tipo na RMR, segundo o Sindicato dos Rodoviários - e teme pela segurança também antes de embarcar. “Na Dantas Barreto, é a coisa mais fácil do mundo alguém chegar com uma faca e pedir o celular.”

Também no Centro, a contadora Taciana Cláudia só sai do prédio onde trabalha quando vê, num aplicativo de celular, que o ônibus está prestes a chegar. “Depois que escurece, fica muito deserto e o perigo é constante”, diz. “Eu me junto a outras pessoas. é necessário para a gente não virar um alvo fácil”, completa a educadora Ângela Severo. Segundo a PM, equipes da Patrulhas do Bairro, do Grupo de Apoio Tático Itinerante e da Operação Contrarresposta, atuam no local. 

Foi também na condição de pedestre que uma cirurgiã plástica de 74 anos foi abordada na rua Isaac Salazar, na Tamarineira. A vítima foi surpreendida por um jovem armado com um revólver quando abria o veículo. A idosa gritou e chamou atenção de um PM, que prendeu o suspeito. 

O professor do Departamento de Ciência Política da UFPE Jorge Zaverucha lembra que o que a população sente nas ruas ao não ver policiais ou não ter certeza se câmeras de monitoramento estão funcionando gera efeito contrário em quem está disposto a praticar um delito. “É o mesmo que câmeras inoperantes, como em Olinda. O bandido vê que está ‘limpo’se encoraja a agir.”

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