"As autoridades do Estado precisam mudar esse cenário", defende assistente social feita refém em presídio

Antônio Assis
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Renata Meirelles
Foto: Felipe Ribeiro

Pedro Galindo
Folha de Pernambuco

A assistente social Renata Meirelles viu, na última terça-feira (7), sua vida por um fio. Ela exercia seu trabalho regular, no Presídio Aspirante Marcelo Francisco de Araújo (Pamfa), no Complexo do Curado, na Zona Oeste do Recife, quando foi tomada como refém pelo reeducando Erivaldo Félix da Silva, de 27 anos. Ela só libertada quando um agente penitenciário interferiu, disparando dois tiros contra o detento.

Em casa, recuperando-se psicológica e fisicamente - machucou o joelho quando caiu, atirada no chão pelo reeducando -, ela concedeu entrevista à reportagem da Folha de Pernambuco. Os relatos desse momento de tensão ficaram, contudo, em segundo plano: eram a precariedade das suas condições de trabalho e a falta de agentes penitenciários para garantir a segurança suas principais queixas.

Quando você começou a atuar no complexo do Curado?
Eu estava praticamente recém-formada, me chamaram quase no final de 2012. Nunca tive problema nenhum, ao contrário; eu sempre defendia. Quando eu entrei, entrei sem medo nenhum, até hoje não tinha medo. Até os presos que trabalham conosco diziam "Tenha certeza que com vocês 'de branco' [forma como os técnicos são chamados] não acontece nada, é tranquilo, ninguém mexe com vocês". Eu entrava ali como se eu estivesse entrando em um shopping.

O que te serve, ou vinha servindo, de motivação para exercer a função de assistente social em um presídio?
A ressocialização deles. É você saber que, com o pouco que você tem, você buscar com eles a escuta, os trabalhos em grupo, e tudo que o setor psicossocial proporciona.

Como são as condições de trabalho?
O que você escuta é pesado, os encaminhamentos são pesados. A sua mente, quando você sai, está com 1000% de estresse. Há pessoas, técnicas que eu conheço, muitas que estão afetadas psicologicamente, emocionalmente. Agora, depois desse fato de ontem, eu estou bem atingida psicologicamente.

Como tem sido sua recuperação?
Eu não dormi absolutamente nada, vejo essa faca o tempo todo. Minha dor maior é porque faz tempo já que a gente vem falando, pedindo, implorando, por condições de trabalho e segurança. Não é culpa dos agentes, a quantidade de agentes é muito pouca no Estado. Quem fica com a gente, pela falta de efetivo, são três presos. São 
gente boa, são ótimos, mas são presos.

Esse episódio mexeu com sua crença no trabalho que vinha desempenhando?
Como está muito recente, como eu estou bastante abalada, se eu falar como Renata, é uma coisa. Mas, se eu falar como assistente social, é outra. Acho que não muito. Mas voltar agora seria impossível, estou completamente assustada, e eu nunca tive medo. Vão vir outros, a maioria chega com facão, eu sabia disso, a maioria sabia, mas mesmo assim você não pensa.

Por que você quis falar à imprensa?
As autoridades máximas do Estado, pelo amor de Deus, precisam mudar esse cenário. De tudo, mas de atendimento também. São profissionais que estudaram. A gente não pode estar trabalhando assim. Foi a primeira vez que aconteceu, mas isso pode dar ideia para outros. Tem um grupo de todas as assistentes sociais que trabalham em todos os presídios do Estado. Eu imagino que hoje cada um que foi trabalhar foi morrendo de medo. Então, é por mudança, melhorias, na parte da segurança dos técnicos.

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