Sem fronteiras, o frevo completa 110 anos

Antônio Assis
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Ritmo pernambucano é um dos três símbolos brasileiros protegidos pela Unesco
Foto: Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco

Juliana Almeida
Folha de Pernambuco 

O frevo não tem fronteiras, apenas princípio. Seu berço é Pernambuco e seu alcance, universal. Exaltado no Carnaval, o frevo completa 110 anos nesta quinta-feira (9). E as comemorações não serão poucas. Mesmo assim, quem vive a música e o passo sabe que os desafios persistem. 

Desde o reconhecimento como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), há dez anos, ocorreram ganhos e perdas. A criação do Paço do Frevo, que faz três anos e é reconhecido como centro de referência do bem cultural pelo Iphan e a manutenção do Plano Integrado de Salvaguarda do Frevo, com reuniões mensais, são pontos positivos.
Contudo, há também retrocessos. O concurso de frevo, obrigatório por lei, não ocorre desde 2013, quando o último CD do projeto foi lançado. “Assim, os compositores não tem ocasião para mostrar as criações. Mas ainda compõem, por uma necessidade que nasce dentro deles”, afirma o historiador Leonardo Dantas.
“As políticas são muito incipientes e não favorecem os espaços públicos, que é um dos elementos principais da tradição”, descreve a bailarina e pesquisadora Valéria Vicente. “É tradição, um patrimônio feito por pessoas que participam e fazem o frevo acontecer”, ressalta.

Com a burocracia e a alta quantidade de documentos exigidos, muitos encontros minguam. “Tem uma parte que se profissionaliza e outra que é só diversão, são pessoas de outras profissões. O governo tem que pensar em como facilitar, reconhecendo que é um patrimônio da cidade”, destaca Valéria.

Brincante há 20 anos, discípulo de Nascimento do Passo, o bailarino e coreógrafo Eduardo Araújo sente falta de uma linha de incentivo. “É da cultura da Cidade, de Pernambuco. Quem vê as cores, o sorriso em cima do palco, não percebe as dificuldades”, afirma.

Para ele, é preciso descentralizar o espaço e o tempo. “Não é só Carnaval e Recife Antigo. O frevo está nas periferias, mas não tem incentivo. Se ninguém apoia, ninguém vê; se ninguém vê, ninguém quer mostrar”, retrata Eduardo, integrante do Guerreiros do Passo, que oferece aulas semanais na Praça do Hipódromo.

Essa demanda está em vias de ser atendida por um novo projeto do Paço do Frevo, a começar em abril. As Escolas Itinerantes de Frevo devem qualificar e ampliar o conhecimento sobre a arte que é música e dança.

A expectativa é formar multiplicadores para a continuidade do processo. “Queremos levar o projeto a todo o Estado, as pessoas também brincam o frevo no Interior. Agora são quatro comunidades, que ainda não definimos, mas a meta é ampliar”, destacou o gerente geral do Paço do Frevo, Eduardo Sarmento.

Programação
Olinda celebra o aniversário com passistas e orquestra a partir das 8h. Na cidade irmã, o Paço do Frevo, no Centro do Recife, recebe brincantes às 9h, para café da manhã ao som da Orquestra de Frevo, que dá início às homenagens que seguem pelo dia todo, e à tarde do dia seguinte. No período, a entrada para o museu é gratuita.
A palavra frevo foi escrita pela primeira vez em 1907, na edição de 9 de fevereiro do extinto Jornal Pequeno, um vespertino do Recife que mantinha uma detalhada seção carnavalesca. Se reforça o uso do “escrita”, pois a palavra já havia ganho a boca do povo, conforme descrito pelo pesquisador Evandro Rabello no livro “Memória da Folia”. A data então se fez marco do nascimento do ritmo.

Frevo é:
“Efervescência, agitação, confusão, rebuliço; apertão nas reuniões de grande massa popular no seu vai-e-vem em direções opostas como pelo Carnaval”, de acordo com o Vocabulário Pernambucano de Pereira da Costa.

Influências:
marcha, maxixe, capoeira,
dobrado, polca, e quadrilha.

Tipos

Frevo de rua:
instrumental, sem letra.

Frevo canção:
quando se acrescenta letra à melodia

Frevo de bloco:
é feito com orquestras de pau
e corda dos blocos líricos.

Lançamento
Para festejar os 110 anos do frevo, a cantora Cristina Amaral lança o EP “Chuva de Alegria”, com seis canções (quatro gravadas em estúdio e duas ao vivo). Estará à venda em lojas como a Passa disco e também nas plataformas digitais. A produção executiva é de Saulo Gouveia e a direção musical é de Jorge Andrade.

Nova safra
A Mostra Cantautor deste mês vai divulgar a nova safra de jovens compositores de frevo-canção. A festa terá Maciel Salú, Júlio Samico, Manuca Bandini, Vinícius Barros e João Menelau. Será às 19h, na Casa do Cachorro Preto, dentro do projeto Quintal Experimental, por R$10.

Single
O músico Juliano Holanda lança hoje, para download gratuito, “Morrer em Pernambuco”, o single de seu novo disco. Composta para a peça “Nossos Ossos”, do Coletivo Angu de Teatro, a canção - um frevo-manifesto que critica a competitividade do meio cultural do Estado - ganhou versões de outros artistas locais, nas redes sociais, em dezembro de 2016.

Livro
O livro “Carnaval de Timbaúba - 102 anos de resgate jornalístico”, de Jefferson Leal e Socorro Cavalcanti, será lançado, às 20h, na Funjader - Museu Jader de Andrade (no prédio da banda 1º de novembro). Na publicação, breve histórico da festa na cidade, com depoimentos de moradores. Na ocasião, tocata carnavalesca com as bandas Euterpina e 1º de novembro.

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