A Revolução que ousou mudar o Brasil

Antônio Assis
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Foto: Shilton Araújo/Esp DP

Anamaria Nascimento
Diário de Pernambuco

Há 200 anos, Pernambuco era um país. Em 6 de março de 1817, um grupo de revolucionários declarou independência e importou os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa. A insatisfação com a Coroa portuguesa fez com que surgisse a primeira república em território brasileiro, mais de 70 anos antes da proclamação da República pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Durante 74 dias, a capitania pernambucana teve bandeira própria, constituição, liberdade de imprensa e até embaixador nos Estados Unidos. 

No bicentenário da Revolução de 1817, historiadores insistem que é preciso popularizar esse capítulo entre os pernambucanos. “A Inconfidência Mineira, que foi um movimento muito menos organizado que o pernambucano, ganhou mais destaque nacional. Tiradentes foi alçado a herói nacional, e os pernambucanos não são mencionados em algumas obras. A maioria dos livros didáticos que circulam no país é produzido no Sudeste e isso atrapalha a difusão dessa história”, afirma o historiador George Cabral, presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP).

Tudo começou quando o capitão José de Barros Lima, conhecido como Leão Coroado, matou o brigadeiro português Manoel Joaquim Barbosa de Castro, responsável pelo Forte das Cinco Pontas, após rejeitar voz de prisão por participar de uma conspiração para libertar Pernambuco da Coroa portuguesa. Depois do assassinato, o Leão Coroado tomou o quartel e deu início à revolução. Tinha início ali a história da nação Pernambuco.

O sonho do primeiro governo livre brasileiro, no entanto, só durou 74 dias. “Foi um movimento que conseguiu tomar o poder. Naquele momento da história, nenhum outro movimento colonial havia conseguido isso. O principal legado deixado pela revolução, mesmo que o governo não tenha durado, é a ideia de que o estado deve servir ao povo e não o contrário. Sobretudo nos tempos atuais, esse legado é muito importante”, destaca Cabral. 

Relíquias que marcam essa história podem ser encontradas na sede do IAHGP, na Rua do Hospício. A entidade guarda a espada e os óculos redondos de lentes de vidro verde que pertenceram ao Leão Coroado além de quadros que retratam os comerciantes Domingos José Martins (1781-1817) e Gervásio Pires (1765-1838). Um exemplar do Preciso, único documento impresso pelos revolucionários, em que eles detalham as ações a serem realizadas pelo governo recém-constituído, também pode ser visto no instituto. 
A partir do dia 12, os objetos relacionados à Revolução de 1817 ficarão no Museu da Cidade do Recife, no Forte das Cinco Pontas, bairro de São José. A exposição 1817 - Revolução Republicana permanecerá em cartaz até 5 de março de 2018.

Um símbolo pernambucano como legado

Um dos principais legados da Revolução de 1817 é a bandeira de Pernambuco. Idealizada pelos revolucionários, foi oficializada um século depois pelo governador Manuel Antônio Pereira Borba (1915-1919) como um dos símbolos oficiais do estado. A cor azul do retângulo superior simboliza a grandeza do céu pernambucano; a cor branca representa a paz; o arco-íris em três cores (verde, amarelo, vermelho) representa a união de todos os pernambucanos; a estrela caracteriza o estado no conjunto da Federação; o sol é a força e a energia de Pernambuco. Já a cruz representa a fé na justiça e no entendimento.

Na versão original, a bandeira estampava três estrelas, que representavam as províncias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. A versão atual, oficializada pelo decreto nº 459/1917, na comemoração do centenário, apenas deixou uma estrela acima do arco-íris. “Ela foi apresentada ao povo onde hoje é a Praça da República. Na comemoração dos 100 anos da revolução, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano solicitou que fosse adotada como a bandeira oficial do estado. Em 1937, porém, no Estado Novo, Getúlio Vargas ordenou que os estados eliminassem suas bandeiras, considerando apenas a nacional como símbolo”, conta o historiador George Cabral.

Durante o período do Estado Novo, o instituto pediu para adotar a então bandeira estadual como símbolo da entidade. “Nessa época, as bandeiras estaduais estavam proibidas, mas não as de associações. Assim, nos anos do Estado Novo, nossa bandeira só tremulava na sede do instituto”, afirma Cabral. Uma flâmula confeccionada em 1917, por ocasião do centenário, é uma das relíquias guardadas até hoje no acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, na Rua do Hospício.

Hotsite reúne perfis dos personagens

Dois séculos atrás, em 6 de maio de 1817, pernambucanos formaram o primeiro governo livre brasileiro. Os perfis dos personagens que fizeram essa história acontecer foram revistos e contadas pelo Diario de Pernambuco ao longo do ano passado e nos primeiros meses de 2017. Os leitores podem encontrar todos os textos no site blogs.diariodepernambuco.com.br/historiape.

Ajudar a divulgar a história do estado, a popularizá-la e a incentivar o estudo e o debate em torno dela é o objetivo do projeto Pernambuco, História & Personagens, realizado pelo Diario em parceria com o governo do estado. De Duarte Coelho a Miguel Arraes, o hotsite reúne 50 biografias de personagens marcantes na história no estado. A iniciativa faz parte das comemorações do Bicentenário da Revolução de 1817.

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