Desconto em livraria gera indignação

Antônio Assis
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Marta Guimarães, bailarina, ficou decepcionada. Para ela, empresa errou ao dividir interesses pela orientação sexual
Foto: Reprodução/Facebook

Tatiana Ferreira
Folha de Pernambuco

O famoso “textão”, nesses últimos dias, tomou conta das redes sociais. O motivo? A campanha da livraria Saraiva em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, nesta quarta-feira (8). A empresa estava oferecendo, entre os dias 2 e 7 de março, 30% de desconto em livros - tanto através do e-commerce como nas lojas físicas - exclusivamente às mulheres. A inciativa - que deveria estimular o público feminino a consumir mais livros e ampliar o acesso ao conhecimento por parte delas -, no entanto, gerou grande indignação. O problema estava na escolha das categorias dispostas à promoção que caem no velho estereótipo do que é “interesse feminino”.

Romance, culinária, maternidade, moda, fitness, enfim. Essas e outras deste mesmo gênero de literatura foram as escolhas da empresa para as mulheres comemorarem seu dia com um presente especial de páginas por um preço módico.

A bailarina Marta Guimarães, por exemplo, ficou muito empolgada quando viu a promoção, mas quedou surpresa ao ver a restrição. “Foi uma decepção. Tinha tudo para ser uma campanha incrível, mas errou feio em categorizar nossos interesses pela identidade de gênero ou orientação sexual”, declara.

No caso da terapeuta ocupacional Gabriela Barza, ela não só se animou como também já estava se organizando para comprar todos os livros de que precisava. No fim, o sentimento foi o mesmo: frustração. Isso porque seu interesse é por livros acadêmicos - só que, justamente esses, estão barrados da promoção. “É como se mulher não pudesse ter interesse em outro assunto se não cozinhar e ser mãe”, reclama. “Não achei a campanha ruim, só foi mal pensada”, completa.

A livraria Saraiva, em nota de esclarecimento à Imprensa, não explica os requisitos adotados para escolher as categorias. Informa apenas que - neste dia 8 - a campanha se estende a gêneros gerais e a intenção dos anteriores era selecionar produtos especialmente para mulheres. Sendo assim, hoje, nas lojas e pelo site, a Saraiva terá livros de temas como Administração, Artes, Economia, Autoajuda, Ciências Humanas e Sociais, Religião e até livros importados com descontos de até 50%. Sobre a polêmica, comenta-se somente que foi má interpretação dos internautas.

Mesmo não assumindo a culpa, Gabriela é uma das mulheres que perdoa a falha da livraria. “Além de ser o primeiro ano que eles [Saraiva] fazem essa campanha, a sociedade nunca esteve tão tensionada para as questões de igualdade de gênero. Por isso a resposta foi imediata e com tanta força”, comenta.

“No ano que vem, acredito que melhorem”, conclui. O mesmo não vale para a estudante Manuela Calado. Ela, inconformada com a atitude que julga preconceituosa, pretende boicotar. “Se fosse para homens, será que só haveria sobre mecânica e automóveis? Acredito que não. A mulher ainda é condicionada a temas limitados”, pontua. “Eu, Manuela, e minhas amigas e irmã fomos levadas à padronização, à futilidade”, lamenta.

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