O traço delas na Casa do Cachorro Preto

Antônio Assis
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“Pecado Original” reflete a alma libertária da autora, a homenageada Tereza Costa RegoFoto: Divulgação

Carol Botelho
Folha de Pernambuco

No dia 28 de abril, a artista plástica Tereza Costa Rego fará 88 anos. Mas nesta quinta-feira (9), um dia depois de outro 8, o de março, ela é a convidada de honra, homenageada e fonte de inspiração de um grupo coletivo composto por 20 artistas. A exposição “Delas - A Mostra das Mulheres”, que abre às 19h, na Casa do Cachorro Preto, em Olinda, busca quebrar a desigualdade - da qual elas não estão livres nem no universo artístico (supostamente libertário) - tanto ao abrir o espaço para nomes artísticos exclusivamente femininos quanto ao abordar temáticas voltadas a elas.
Tereza, libertária por natureza, transfere seu “bordel” particular para o espaço cultural. “Tenho um quarto com um sofá bem matuto com cinco quadros, entre os quais ‘Memória para Seixas’, que fiz em homenagem ao meu amigo poeta Bebé Seixas. 

É uma grande tela com mulheres deitadas olhando para um homem que lhes serve flores e licores enquanto lê poesias”, descreve Tereza, que escolheu o trabalho “Pecado Original”, um de seus mais recentes, para se misturar na mostra. “Sou safada, gosto sempre do último. Este saiu do meu útero e possui a maçã que tanto gosto, símbolo do pecado, além das cobras corais - sou torcedora do Santa Cruz -, e uma porção de figuras humanas bem pequenas, como se estivessem em uma suruba”, descreve a pintora.

Enquadrá-la como feminista não a agrada, pois rótulos prendem, e Tereza se diz independente, livre. “Não reprimo nada, aceito tudo. Mas não gosto do catecismo. Sou muito livre e acho que sou feminista do meu jeito”, declara a artista, feliz pelo convite de participar de uma mostra com artistas mais jovens.

Uma delas é Clara Moreira, recifense radicada em Belo Horizonte há quatro anos, cujo trabalho já tem causado muitos comentários nas redes sociais. O desenho em lápis de cor sobre papel de algodão retrata um cartão-postal do Recife que ganha uma intervenção perturbadora, ainda que fictícia: uma vagina gigantesca está agachada sobre o obelisco do artista Francisco Brennand, situado diante do Marco Zero.

Dá a entender que o órgão sexual feminino está prestes a “engolir” a escultura que muitos dizem lembrar o órgão sexual masculino, como se ali houvesse uma redenção, uma batalha vencida pelas mulheres. A artista faz mistério sobre o que quis dizer com o desenho. 

“Estou gostando mais de ouvir a repercussão do que formular o que é a obra. Por isso que ela não tem título, para não delimitar, para que as pessoas se apropriem. As mulheres têm recebido com muita alegria”, analisa Clara. Para ela, o projeto da mostra é importante para deixar a mulher falar. “Acho que existe uma desigualdade que oprime a vida feminina. E qualquer ação que vá contra isso é essencial. Principalmente para as mulheres negras, historicamente oprimidas”, defende.

Outros nomes presentes na mostra são Amelia Couto, Barbara Collier, Bia Melo, Carol Huang, Clara Nogueira, Clarissa Machado, Conchita, Dani Acioli, Fefa Lins, Gio Simões, Joana Liberal, Juliana Lapa, Kátia Fugita, Laura Costa Rego, Luciene Torres, Nathalia Queiroz, Simone Mendes, Tatiana Móes e Valéria Rey Soto. Em cartaz até 27 de março.

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