Para sobreviver, partidos precisam de novos nomes e agenda, diz cientista político

Antônio Assis
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Gabriela Fujita
UOL

Considerando apenas a última avalanche política no Brasil envolvendo corrupção, desvio de dinheiro público e pagamento de propinas, são quase cem os nomes dos indicados pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), que devem ser investigados por algum possível crime ligado à operação Lava Jato.

Estão na lista oito ministros do governo de Michel Temer, 24 senadores e 39 deputados federais, e ainda três governadores e 23 outros políticos e autoridades.

O volume de trabalho destinado ao Judiciário é muito maior do que o gerado pelo escândalo do mensalão, segundo observa o cientista político Fernando Abrucio. Para ele, a resposta do STF, por exemplo, não deve ser tão rápida quanto a sociedade gostaria de ver, "e o Supremo vai ter uma tarefa difícil, porque vai levar tempo".

O que se pode constatar de imediato, afirma Abrucio, é a força do impacto que essa quantidade de revelações projeta sobre o sistema político nacional.

"O que mais pesa nesse processo é o custo político", diz ele. "Dados os fatos atuais, pouquíssimos dali vão sobreviver. O sistema político da redemocratização do país [iniciada após a ditadura] ruiu."

As siglas de maior peso – PT, PMDB e PSDB – podem até buscar acordos com objetivo de amainar danos jurídicos que venham a afetar os delatados, mas ainda assim será preciso "apresentar uma nova agenda e, ao mesmo tempo, apresentar novos nomes".

"Pode ser até que surja um sistema pior. Quem é que esse novo líder, com novas ideias, vai usar como base no Congresso, como base de técnicos? Vai chamar o MBL [Movimento Brasil Livre]?", questiona o professor e pesquisador da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas).

"Um ministério com Moreira Franco, Eliseu Padilha, como o que foi apresentado pelo presidente Michel Temer, eu diria que eles estão na 'terceira idade' da política. E faz tempo."
Prazo curto até 2018

Ainda que muitos dos inquéritos não sejam finalizados até as eleições de 2018, deixando o caminho aberto para candidaturas de alguns investigados, as feridas estão expostas e o mal-estar já foi causado, principalmente ao eleitor.

Não vai ser suficiente refazer estratégias e alianças para driblar os efeitos dos questionamentos judiciais, na opinião de Abrucio, e faltará tempo.

"O país vai se obrigar a fazer uma renovação num prazo muito curto de tempo, sendo que a sociedade não se preparou para isso. Não basta ter boa vontade e ser bem intencionado", ele diz.




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