Vado da Farmácia se destaca como “nanico” na lista do Supremo

Antônio Assis
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Anna Virgínia Balloussier
Folha de São Paulo

Oito ministros, os presidentes da Câmara e do Senado, 24 senadores, 39 deputados federais... e o Vado da Farmácia.

Quem? É o que muita gente se perguntou quando o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, incluiu o nome do ex-prefeito de uma cidade com 200 mil habitantes em Pernambuco na lista de investigados na corte.

Mas Cabo de Santo Agostinho não é uma cidade qualquer, não para a Odebrecht. Fica lá uma das maiores obras da empreiteira no Nordeste, o Porto de Suape, alvo de aportes bilionários do governo.

José Ivaldo Gomes, 48, escolheu Vado da Farmácia como batismo eleitoral por assim ser conhecido em seu município. Antes de entrar na vida pública, abriu duas farmácias.

Já tinha se aventurado no mundo dos negócios com um boteco, o Bar do Vado. Virara patrão após uma vida de empregado -cortou carne em mercado, vendeu picolé e foi ajudante de pedreiro, como conta um perfil seu publicado em 2012 pelo pernambucano "Jornal do Commercio".

Naquele ano, foi eleito prefeito de Cabo de Santo Agostinho. Um dos rivais derrotados no pleito é o hoje deputado Betinho Gomes (PSDB-PE). Os dois aparecem no inquérito 4.446, citados por dois executivos da Odebrecht Realizações Imobiliárias. Betinho tem foro privilegiado por ser parlamentar, e Vado, mesmo sem cargo, será investigado no Supremo por figurar no mesmo caso.

Ambos receberam repasses em 2012, segundo os delatores. O de Vado teria sido R$ 150 mil, duas vezes maior que o do colega. Em 2014, teria ganho mais R$ 750 mil e dado como contrapartida à Odebrecht "desoneração fiscal" e "benesses" na Reserva do Paiva. Obra local da empreiteira, o complexo imobiliário de luxo tem "nascer e pôr do sol garantido na vista de todos os apartamentos", diz o site do projeto.

Hoje sem partido, depois de passar por PSB e PTB, Vado nega a acusação e se diz "absolutamente tranquilo".

Solteiro, ensino médio completo, sem cor/raça informada, R$ 0 em bens declarados, eleito por uma coligação de 14 partidos. Essa era sua ficha no Tribunal Superior Eleitoral em 2012, quando tinha a bênção do então governador Eduardo Campos (PSB-PE), morto dois anos depois.

Em 2013, o site da Prefeitura do Cabo publicou uma foto de Vado com o ministro do Desenvolvimento e o líder do governo no Senado. O portal também divulgou reunião do prefeito com um diretor da Odebrecht, lá para "reforçar a parceria".

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