Pacientes denunciam descaso na maternidade do hospital Agamenon Magalhães

Antônio Assis
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Tatiana Notaro
Folha-PE

Pacientes denunciam descaso na maternidade do hospital Agamenon Magalhães (no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife), onde várias gestantes sofrem com o atendimento precário: vindas de cidades do Interior, da Região Metropolitana do Recife (RMR), sentindo dores e em trabalho de parto, passam a madrugada sentadas em cadeiras, pelo chão e sem medicamentos.

O Portal FolhaPE recebeu denúncias de parentes. Uma grávida de 21 anos e quase nove meses de gestação chegou ao hospital com pressão alta e um encaminhamento de “gravidez de risco”. “Chegamos às 13h de ontem (terça, 23) e ela só foi atendida depois da 1h da manhã (de hoje, quarta, 24). Foram mais de 12 horas de espera”, denuncia a tia da paciente. Neste momento, a jovem está sendo atendida.

“Vi mulheres sangrando aqui e indo embora sem atendimento, com oito centímetros de dilatação. Ela saiu daqui (do Agamenon Magalhães), foi pro Cisam (Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros), depois, para o Tricentenário (hospital, em Olinda), mas eles não atendem quem chega sem encaminhamento. Então ela voltou pra cá”, narrou. "Estamos todos revoltados e vendo bebês correndo risco de vida, porque uma vez que eles não nascem, eles podem morrer. Só são atendidas grávidas que chegam em ambulância. Se não atendem, pelo menos deem o encaminhamento pra outro hospital", desabafa a mulher.

O marido de uma gestante também entrou em contato para fazer uma denúncia. “Elas entram e não podem mais sair e nada pode entrar. Ela está sem comer desde as 19h de ontem (terça, 23)”, diz. A mãe, em trabalho de parto, também passou a noite sentada em uma cadeira plástica, em uma das dependências do Agamenon. Na noite da última terça, havia cerca de 15 grávidas no local.

Outro relato conta que houve atrito entre parentes e uma médica do hospital. “Ela passou uma paciente na frente de outra que tinha chegado antes e foi questionada. Respondeu: ‘passei porque achei que devo e se quiser ficar, é assim”. O marido da paciente pediu respeito e chegou a chutar uma porta na discussão.

Em um dos vídeos enviados para o Whatsapp do Portal FolhaPE, a denunciante reclama: “várias pessoas aqui no hospital precisando de atendimento e nada de médico, só aqui esperando desde 13h e não tem médico nenhum para ‘atender elas’. É um descaso com as pessoas, tão fazendo o pessoal de bicho mesmo, minha irmã já veio aqui ontem e veio de novo, estão esperando o que? Que ela morra?”.

O Agamenon Magalhães é um hospital de referência de alto risco da rede Estadual de Saúde de Pernambuco e atende casos de todo Estado. A Secretaria de Saúde (SES) do Estado se posicionou sobre a situação através de nota:

NOTA DE ESCLARECIMENTO//EMERGÊNCIA OBSTÉTRICA - AGAMENON MAGALHÃES

"A Secretaria Estadual de Saúde (SES) reconhece a grande demanda na emergência obstétrica do Hospital Agamenon Magalhães (HAM). Esclarece, no entanto, que a unidade está com escalas de profissionais completas e, apesar da demanda, não recusa pacientes, mantendo suas portas abertas e garantindo a assistência a todas as mulheres que dão entrada, com prioridade para os casos de maior gravidade.

É importante destacar ainda que um volume considerável desses atendimentos é de mulheres com intercorrências clínicas durante a gestação que necessitam de internamento para tratamento. Neste sentido, a SES vem dialogando com os gestores municipais sobre o fortalecimento da rede de atenção materno infantil, reforçando a importância da efetivação do pré-natal de qualidade. Ao mesmo tempo, o Estado tem atuado na qualificação do pré-natal de alto risco na rede própria, tendo ampliado esse tipo de assistência para o Interior. Hoje, o pré-natal de alto risco já está disponível em hospitais regionais e Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada (UPAEs). O objetivo é reduzir o número de internamentos excessivos por conta de problemas durante a gestação.

Por fim, é importante ressaltar que o Hospital Agamenon Magalhães é uma unidade de referência em partos de alto risco, que preza pelo bom atendimento a todos os usuários do SUS. Hoje, contribui de forma importante com a Rede Materno Infantil de Pernambuco. Entre os anos de 2010 e 2013 houve um incremento de 67% na quantidade de partos de alto risco realizados pela instituição. Atualmente, são cerca de 350 partos por mês. Para tanto, tem trabalhado para qualificar o atendimento no serviço. Desde 2015, faz parte do Projeto Parto Adequado, fruto de uma parceria do Ministério da Saúde e do Hospital Israelita Alberto Einstein, para incentivar o parto normal em maternidades públicas e privadas de todo o País. O HAM foi o único hospital público do Estado selecionado".

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