Temer, a não-renúncia e mais uma crise

Antônio Assis
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Tatiana Notaro
Folha de Pernambuco

No “melhor e pior momento” do Governo Temer, como o próprio presidente disse em sua fala de não-renúncia, nesta quinta-feira (18), o País voltou a um cenário aterrorizante de dúvida. A perda de credibilidade refletirá em vários cenários e, continuando à frente do Planalto, o presidente Michel Temer só piora a situação - nas opiniões ouvidas pelo Portal FolhaPE. “O governo só não acaba se ele (Temer) for capaz de dar respostas convincentes sobre o que aconteceu. E a renúncia é um ato unilateral, só ele pode fazê-lo”, sacramenta o jurista José Paulo Cavalcanti.

A delação à Operação Lava Jato dos empresários Joesley e Wesley Batistas, donos da JBS, publicada pelo jornal O Globo na última quarta (17), impactou a nação. “Minha primeira reação foi de surpresa, porque por mais que eu já tenha visto ‘boi voar’ na política, não pensei que Temer ia ser flagrado em uma coisa tão primária. De fato, a ficção não consegue acompanhar a realidade”, diz o publicitário, historiador e especialista em Comunicação Política, José Nivaldo Júnior.

Diante do que se tem até agora, com o presidente categoricamente bradando que não renunciará ao cargo, sobram o impeachment e a cassação da chapa Dilma-Temer, cujo julgamento está marcado para junho, como alternativas para a política. “Outro impeachment seria um desastre, com o País mais 11 meses em latência”, comenta Cavalcanti, lamentando que essa “tragédia” coloque o País “de volta à estaca zero”.

Nivaldo Júnior defende que as decisões, agora, sigam os marcos constitucionais. “Acho antidemocrático qualquer um que vá além da Constituição em vigor. Mesmo que, depois de passado o terremoto, se discuta uma nova constituição. Agora não é hora”.

Mais cedo, antes da não-renúncia de Temer, Nivaldo já considerava a situação do governo insustentável. “Imediatamente se viu isso, em primeiro lugar, pelo fato em si: flagrante de um crime no exercício do mandato. Depois, a baixa popularidade do governo torna isso ainda mais grave, porque ele não tem gordura de popularidade para queimar, então a queda é imediata. No máximo 48 horas, não vejo como passar disso. Ele perdeu as condições”.

Na economia, “o avião ia entrando em voo de cruzeiro”, com a fase de instabilidade passando, e voltou a tremer. É natural que os agentes econômicos, que estavam recuperando a confiança, fiquem abalados. De repente, a doença voltou, e quanto mais ela persistir, piores serão as consequências. “A renúncia de Temer teria um impacto mais brando que o impeachment de Dilma, que foi demorado, muito traumático. A saída dele unifica o País, acaba com o ‘Fora Temer’, pacifica a rua e tranquiliza os agentes econômicos, que não querem mais abalos”.

Temer
José Paulo Cavalcanti argumenta que, se Temer quisesse “simplesmente ser presidente”, “teria feito duas ou três medidas populistas, como o PT fez nos últimos anos”. “Mas ele teve coragem de propor reformas que entregariam o País no caminho da reestruturação para o sucessor”, acrescenta. Por outro lado, o jurista diz que “nenhum de nós se sente representado” pelo presidente. “Nenhum. Ele pôs quase as mesmas caras em Brasília”.

Alternativas
Em um cenário de vacância, Cavalcanti diz que não visualiza como o Congresso, “tão desgastado”, poderia fazer uma escolha interna. “Os (parlamentares) limpos não são consensuais (e cita o senador Cristovam Buarque); os consensuais não são limpos (cita o presidente do Senado, Renan Calheiros). Teria que vir de fora”.

Para Nivaldo Júnior, um bom nome seria o do atual ministro da Fazenda, Henrique Meireles, que “tem as prerrogativas que o País precisa hoje: passa segurança à sociedade, tem o nome fora de escândalos, tem diálogo com as forças políticas, já que foi ministro várias vezes, em vários governos”. “Não é ser ou não o ideal, é o que o conjunto precisa agora”.

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