Festejos juninos levam caos a Serra Negra

Antônio Assis
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Serra Negra, em Bezerros
Foto: Leo Motta

Tatiana Notaro
Folha de Pernambuco

No último fim de semana, 17 e 18 de junho, em torno de 230 ônibus pegaram o caminho para a Serra Negra, distrito de Bezerros, onde fica, hoje, umas das festas juninas mais disputadas de Pernambuco. Fazendo uma média, foram mais de 10,3 mil pessoas apenas nesses veículos, cinco vezes mais ônibus que ano passado - sem contar moradores, hóspedes, motociclistas e grupos que chegaram em vans e carros de passeio. A Prefeitura de Bezerros estima que em torno de 25 mil pessoas participaram da programação. Para se ter uma ideia do impacto dessa movimentação, basta dizer que Bezerros, a cidade sede, tem cerca de 58 mil habitantes e na Serra Negra não moram nem 10% desse volume. 

O resultado foi grande transtorno na estrada que conduz à vila que fica a 9 km da cidade. Segundo relatos, pessoas chegaram a ficar mais de duas horas presas nos engarrafamentos no sábado e domingo. Moradores estão temendo novo caos nos próximos dias de festejos juninos.

Para tentar remediar a situação, a Prefeitura anunciou em suas redes sociais que colocará uma barreira aos ônibus e micro-ônibus em lugares estratégicos e que apenas vans poderão subir para a festa no próximo fim de semana, véspera e dia de São João. Até o momento, segundo o secretário de Governo do município de Bezerros, Josevânio Miranda, 30 veículos já foram cadastrados e terão a permissão para cobrar R$ 5 pelo trecho, “tabelado, para que não haja exploração”. Miranda argumenta que nas vias estreitas, de mão dupla e sem acostamento, que levam até o polo cultural do distrito, as vans vão fluir melhor que os ônibus. “Já comunicamos às agências de turismo, pedimos que eles venham já de van, que fica mais rápido o acesso”, disse.


No espaço destinado aos shows, cabem 10 mil e a estrutura para estacionamento é geralmente improvisada. Manuel José da Silva Filho é nascido em Bezerros, tem um sítio na Serra Negra, e contou que, no último fim de semana, no trajeto de 4 quilômetros (km) que costuma fazem em 15 minutos, levou mais de 2h30. O próprio secretário Miranda reforçou esse problema. Disse à reportagem que alguns demoraram até 4h para conseguir subir a Serra; 1h30 para descer. Outro sitiante de Serra, Jairo Raposo narra a mesma dificuldade do trajeto: para sair do sítio para o polo, um trajeto de 4 km, levou mais de 2h. A fila de engarrafamento descia a serra, atravessava a cidade de Bezerros e chegava perto da BR-232. É inadmissível que a prefeitura promova um evento nestas condições”, reclama.

Outro dono de sítio, o empresário André Araujo disse que o maior temor é para o caso de haver uma emergência na Serra. “O Samu não vai conseguir chegar. E se estiver lá em cima, não desce. É uma irresponsabilidade o que estão fazendo na Serra Negra”. Para ele, ali só deveriam acontecer eventos fora de datas festivas, de médio porte, que não atraia multidões. “O que acontece na Serra é uma total falta de gestão”, conclui.

Manoel Silva reclama que a Serra Negra não suporta festas de grande porte, como as prevista para o São João, com grandes atrações e alta demanda de veículos. “A Serra Negra é uma vila, não tem saneamento, não tem estrutura para o lixo que se gera ali e o estacionamento é sempre improvisado em festas deste tamanho”. “A cada ano, a divulgação cresce, e mais gente sobe. Só que as autoridades não divulgam que é um local de pouca estrutura. As pessoas vão e se frustram pela dificuldade. No último fim de semana, viaturas do Corpo de Bombeiros e o Samu também estavam engarrafados. 

Eu vi uma van, parada, de onde desceram pessoas, colocaram uma mesa na via pública e começaram a beber ali mesmo; motos que passavam dando ‘socos’ nos retrovisores, e muito lixo. As pessoas precisam ser respeitadas em seu direito de ir e vir. Até prestar socorro a alguém nas condições atuais seria inviável. Torço para que as pessoas que foram para Serra no último fim de semana desencorajem outras a ir. Porque isso não é lazer, é sofrimento”, descreveu Silva.

Economia local
Este é o primeiro ano em que o São João de Serra Negra recebe patrocínio privado, cujo valor não é divulgado. Mas segundo a Secretaria de Turismo de Bezerros, “ foram investidos em toda estrutura, atrações e organização cerca de R$ 600 mil”. A prefeitura aposta que, nos sete dias de festa, circule mais de R$ 1 milhão, movimentados pelo comércio, rede hoteleira, bares e restaurantes de Bezerros e Serra Negra.

Nesse “progresso”, o secretario Josevânio Miranda disse que a gestão não cogita transferir a festa para Bezerros. “Isso já foi testado e não se consegue competir com Caruaru e Gravatá, que são próximos. Nossos atrativos são, justamente, o local, e o horário”, argumentou.

Insegurança
Na área de Serra Negra, há relatos de assaltos no percurso, quando os bandidos se aproveitam do engarrafamento; se aproveitam do estacionamento escuro. “Não roubam carros porque não tem como, mas há para-brisas e retrovisores quebrados e muitos furtos aos veículos”, conta Raposo. A casa de Silva foi arrombada. “A minha e as de uma dezena de pessoas”.

“Para nós, da organização, esse relato de assalto não chegou. Mas achamos que foi muito pouco o policiamento. E o prefeito está no Recife conversando com o comandante da Polícia Militar e com o governador e vai ter reforço de policiamento e trânsito. Estamos também contratando policiais que estão de folga ou que estejam aposentados para, de moto, fazer essa circulação”, explica o secretário Josevânio Miranda. Procurados pela reportagem, a Polícia Militar e o Governo do Estado não confirmaram agenda com o prefeito Branquinho (PSB).

Urbanização
Há também muitas queixas e denúncias acerca do processo de urbanização sem padrão que Serra Negra vem sofrendo. “Assim como o Recife tem normas para construção, lá também tem, mas são ignoradas. As pessoas fazem como querem. Eu estou denunciando o surgimento de cortiços, com ocupação de 100% do terreno, sem prever coisa alguma. É um claro processo de favelização com a omissão do poder público”, diz Manoel Silva.

Questionado, o secretário Josevânio Miranda diz que, de fato, existem construções irregulares, “que que apresentaram um projeto e estão executando outro”, mas que eles estão embargadas até que se enquadrem ao plano diretor do distrito.

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