Vereador do PSOL faz prestação de contas do mandato em ônibus

Antônio Assis
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Ivan Moraes (PSOL) faz prestação de contas do mandato em ônibus do Recife
Beto Figueiroa/Divulgação

Franco Benites
JC Online

Quem subiu na linha Alto do Refúgio, na última terça-feira à tarde, e se deparou com um homem em pé falando alto e gesticulando poderia imaginar que se tratava de um pastor citando algum trecho bíblico ou de alguém desempregado em busca de ajuda financeira, cenas cada vez mais comuns nos ônibus da Região Metropolitana do Recife. Era, no entanto, o vereador Ivan Moraes Filho (PSOL), que desde fevereiro presta contas de seu mandato na Câmara do Recife em ônibus que passam pela capital pernambucana.

A iniciativa foi copiada de outro vereador do PSOL, Sandro Pimentel, de Natal, no Rio Grande do Norte. “Fui lá em dezembro ver como ele fazia. Aqui, faço a prestação de contas nos ônibus toda sexta-feira. Quando não dá, tento encaixar durante a semana”, diz.

O vereador pega em média quatro ônibus nos dias de prestação de contas itinerante. No dia em que teve a companhia da reportagem do JC, subiu em dois. As reações à iniciativa de Ivan Moraes, que sempre começa a apresentação dizendo que é um empregado da população, foram de surpresa, atenção e indiferença, com passageiros olhando pela janela ou mais interessados na tela do celular.

Para Ivan, que centrou forças na campanha pela internet e foi eleito para o seu primeiro mandato com a maior parte dos 5.203 votos concentrados em um eleitorado da classe média, a experiência é válida.

“Tem cobrança, mas nunca é ruim, nunca tem um constrangimento. Você fica muitas vezes no ambiente das redes sociais, dialogando com a ‘bolha’, e quando vai a um ambiente como esse vê que a cidade está pensando uma coisa diferente do que você achava”, argumenta.

Ivan garante que não passou aperto nem mesmo na época do reajuste no valor do auxílio-alimentação dos vereadores, iniciativa posteriormente revista. “Achava que ia levar um ‘babau’, mas não teve isso. Um homem me perguntou e expliquei que usei o meu cartão (alimentação) e contribui com lanche de eventos realizados por algumas organizações sociais. Também me questionou sobre o salário e eu disse que reconhecia que o salário era alto, mas que é justo porque o vereador trabalha para caramba. Mas ele tem todo o direito de cobrar”, afirmou.

Além do desinteresse de alguns passageiros, Ivan teve que superar outros obstáculos. Na primeira linha, dividiu a atenção dos usuários do sistema de transporte com um vendedor ambulante, que acabou perdendo espaço no ônibus para o vereador. A poluição sonora da cidade também demandou um esforço vocal maior do psolista para, literalmente, não perder a viagem.

Uma usuária disse ter gostado da iniciativa de Ivan e garantiu que votaria nele na próxima eleição. Outro quis tirar uma dúvida sobre o cartão de livre acesso aos ônibus para pessoas com deficiência, que é da alçada do governo estadual. Para estimular a interação com os passageiros, ele costuma fazer perguntas. Em uma delas, quis saber quantos vereadores compõem a Câmara do Recife. Apenas uma mulher respondeu e disse “cem”.

“Tem gente que questiona por que não coloco um posto de saúde em determinada localidade. Às vezes, pergunto o nome de dez ou cinco vereadores e as pessoas não sabem dizer. Faço um trabalho educativo também, falando sobre o papel do vereador e da prefeitura. Tem quem sugira algumas ações e a gente anota. Também divulgo algumas audiências na Câmara, enfim, chamo a galera para participar e chegar junto”, diz Ivan, na linguagem informal com a qual é conhecido.

Procurada pelo JC, a assessoria do Grande Recife Consórcio de Transporte informou que a prestação de contas de Ivan Moraes nos ônibus não infringe nenhuma regra do Regulamento do Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife (STTP/RMR).
MAIS PRESTAÇÃO

Ivan Moraes (PSOL) é não o único vereador do Recife a prestar contas do mandato. Embora de maneira mais convencional, os seus colegas na Câmara do Recife também dão satisfação aos eleitores e o principal meio usado hoje em dia para conversar com os recifenses são as redes sociais. Jayme Asfora (PMDB), da bancada governista, é adepto do Facebook, Instagram, Twitter e Whastapp. “Coloco tudo o que faço a cada semana até para ouvir críticas, que são importantes para a correção de rumos do mandato”, diz.

Além da internet, Jayme Asfora, que já presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), participa de reuniões com grupos segmentados que ajudaram em sua eleição.

“Me reúno periodicamente com pessoas que me apoiam na advocacia e outros grupos, como os militantes da causa LGBT”, explica.

O primeiro-secretário da Câmara do Recife, Marco Aurélio Medeiros (PRTB), aposta em reuniões em localidades onde teve maior votação, como Alto Santa Isabel, Bomba do Hemetério e Coelhos. Ele esteve à frente da proposta de reajuste no auxílio-alimentação dos vereadores e reconhece que não teve descanso por isso.

“Foi ‘pau’. Até hoje, vez por outra aparece quem lembre o episódio. Eu digo que não existiria argumento para a gente defender o aumento”, comenta, em tom de mea-culpa.

Um dos principais opositores ao prefeito, André Régis (PSDB) recorre às redes sociais, mas vai além. Em um site cujo domínio leva o seu nome, ele publica vídeos e um balanço de requerimentos e projetos de lei apresentados. No outro, intitulado Raio-x das escolas, ele publica o acompanhamento que faz da rede de ensino municipal do Recife.

O Facebook é uma das ferramentas mais utilizadas por Carlos Gueiros (PTB), da base governista, e por outros diversos vereadores a exemplo do próprio Ivan Moraes, que não se limita aos ônibus. Toda segunda-feira, ele promove um bate-papo ao vivo na rede social.

A líder da oposição ao prefeito, Marília Arraes (PT) presta contas nas redes sociais, por meio de informativos virtuais e impressos e em reuniões com setores da sociedade civil. A assessoria da petista ficou de localizá-la, mas não houve mais resposta. A líder do governo, Aline Mariano (PMDB), também foi procurada, disse que entraria em contato e não deu retorno à reportagem.

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