PSDB faz aniversário rachado e com presidente acusado de corrupção

Antônio Assis
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Aécio Neves: acusado de corrupção, está licenciado da presidência nacional do PSDB
Foto:Orlando Brito/Divulgação

JC Online

O PSDB, ou Partido da Social Democracia Brasileira, completou 29 anos de fundação no dia 25 de junho mais dividido do que nunca, o que reforça a imagem de que ficar em cima do muro é uma vocação da legenda. A nova idade vem em um momento no qual os tucanos não se entendem sobre o apoio ao governo do presidente Michel Temer (PMDB) e em meio a uma cada vez mais visível briga por espaço por conta da eleição para a presidência da República em 2018. As acusações contra o senador Aécio Neves (MG), que está afastado do comando nacional da sigla, também contribuem para tirar o brilho do aniversário.

“Esse é um dos piores momentos do PSDB desde a sua fundação. Difícil pensar em alguém mais implicado em casos de corrupção do que o Aécio e olhe que na política brasileira o limite é alto. O partido também não tomou posição com relação à permanência ou saída do governo Temer e tem um ex-presidente, que é o Fernando Henrique Cardoso, que muda muito de ideia e mais atrapalha o debate político do que colabora. Falta um líder em alta, que tome as rédeas e organize o discurso do partido”, avalia o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ).

A divisão do PSDB em relação a Temer gerou a criação de dois grupos. Os cabeças pretas, integrantes mais jovens, cobram o desembarque do governo. Integram essa ala os deputados federais pernambucanos Betinho Gomes e Daniel Coelho, que não economizam nas críticas ao partido ao tratar do assunto. Já os cabeças brancas dizem que sair da base de apoio de Temer é agir por precipitação. “Defendo que o PSDB se mantenha no governo e com o compromisso com as reformas e com a recuperação da economia e do emprego”, diz o senador José Aníbal (SP), atual presidente do Instituto Teotônio Vilela, ligado ao PSDB.

O senador nega que a atual divisão do PSDB seja um problema às portas da sigla completar três décadas de existência. “Mostra que o partido é plural e não tem uma ordem unida e que há uma reflexão procurando encontrar o melhor caminho”, argumenta.
Para o cientista político Elton Gomes, das faculdades Damas e Estácio, o PSDB vive um momento de inflexão. 
“Há quem fale em refundar o partido, mas ele tem algo que o diferencia de outras legendas, como o PT. O PT é mais orgânico, tem mais ligação com as bases, mas o PSDB tem mais capacidade de sobreviver às quedas de lideranças. O PT não encontra muita possibilidade de se reestruturar sem Lula. O PSDB tem essa capacidade. Se Aécio for preso, teria impacto político-eleitoral forte, mas não iria ameaçar a sobrevivência do PSDB”, diz.

Na visão do sociólogo Rodrigo Prando, do Instituto Mackenzie, é injusta a imagem de que o PSDB é um partido em cima do muro. “Na leitura do leigo é um partido que fica em cima do muro. Em uma leitura mais fria, é um partido que está ligado à ética da responsabilidade. O PT não teria problema nenhum em assumir uma postura populista para marcar posição. O PSDB, ao contrário, acaba esperando para tomar uma posição que seja mais responsável. Não digo que isso é melhor ou pior que o PT, mas acaba dando a impressão de que fica em cima do muro”, opina.

De acordo com Rodrigo Prando, o PSDB está no que ele chama de “sinuca de bico”. “Se permanecer no governo, vai ser atacado pelo PT em 2018. Se desembarcar e se colocar como opção pode não ter a parceria com o PMDB. Ou o PSDB realiza uma grande avaliação de suas posturas do que quer para 2018 ou tem a tendência a perder de novo”, enfatiza o sociólogo.
VACILAÇÃO EM PERNAMBUCO

A ala pernambucana sempre contribuiu para reforçar a imagem de que é o PSDB é um partido indefinido. Quando a legenda era comandada pelo pernambucano Sérgio Guerra, integrava a oposição à gestão Eduardo Campos na teoria e na prática não dava dor de cabeça ao socialista. A vacilação em descer do muro e se colocar como uma legenda combativa deixou uma marca negativa: em 29 anos de existência, o PSDB nunca governou o Estado. Hoje, a sigla tem dois ex-governadores - João Lyra e Joaquim Francisco -, mas nenhum deles era tucano quando estava no comando de Pernambuco.

Em 2012 e 2016, PSDB entrou na disputa para a prefeitura do Recife. Ano passado, porém, houve uma articulação intensa para que o partido desistisse da candidatura do deputado Daniel Coelho e se integrasse à campanha de reeleição do prefeito Geraldo Julio (PSB). Agora, fala-se que o partido irá entrar na disputa contra Paulo Câmara (PSB) em 2018, mas nos bastidores políticos sobra quem ache que o PSDB vai se realinhar aos socialistas.

A contradição da época em que Guerra diria o PSDB se repete agora. O partido está fora da base de apoio à Paulo Câmara, mas a postura dos deputados tucanos Antônio Moraes e Terezinha Nunes está longe de ser oposição. “No Estado, ficaremos dependentes dos entendimentos nacionais. Ainda não podemos falar o que o PSDB vai fazer em 2018. É prematuro”, diz Terezinha.

No entanto, se depender de outros nomes da legenda, o PSDB será competitivo no que diz respeito à briga estadual. “O PSDB, com 29 anos, já amadureceu, e tem bons quadros. Se não entrar em campo, não ganha jogo”, diz Joaquim Francisco, que não topa ir para a disputa porque mira uma vaga de deputado federal.

O ex-prefeito de Jaboatão, Elias Gomes, que assumirá a presidência estadual do PSDB no lugar de Antônio Moraes este mês, pensa o mesmo. “Um partido que tem projeto nacional precisa ter candidato em um estado estratégico como Pernambuco. Como a gente quer o governo federal e fica sendo coadjuvante a vida inteira aqui?”, questiona.

O deputado federal Daniel Coelho quer o PSDB no lado oposto ao PSB. “A posição inicial é que tenha candidato e hoje o nome é o de Bruno Araújo (ministro das Cidades), mas sem imposição”, declarou.
Citado por outros tucanos, Bruno não foi localizado pela reportagem e sua assessoria informou que o ministro está fora do País. Ainda que não se assuma como candidato, ele vem construindo um caminho ao intensificar a presença no Estado e se colocar como um dos críticos do governo Paulo.

O vereador André Régis, que faz oposição ao prefeito Geraldo Julio, também quer ver o PSDB em faixa própria em 2018 e distante do PSB e dos demais governistas. “O PSDB pecou muito no Estado por não lançar candidatos. Teremos a oportunidade de lançar ao governo pela primeira vez em Pernambuco. Defendo que o partido lance candidato ao governo e ao Senado”, afirma.
PLANO REAL

Um dos principais orgulhos do PSDB em seus 29 anos de existência é o fato do partido ter sido liderar a implantação do Plano Real quando Fernando Henrique Cardoso era ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco. A análise interna é de que foi graças a FHC que o Brasil deixou para trás décadas de problemas econômicos.

Para o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o PSDB logrou êxito porque não estava tão dividido quanto hoje. “O principal acerto do partido foi apostar no FHC no início dos anos 1990. Ele foi um político extremamente habilidoso, inteligente, que reuniu uma boa equipe”, afirma.

Bastante próximo de FHC, o vereador André Régis destaca que a atuação do sociólogo que virou presidente do Brasil por oito anos foi fundamental para o PSDB e para o País. “O Plano Real é o exemplo de muita competência do PSDB na gestão da economia. Foi um plano absolutamente salvador da economia nacional, que era atingida pela hiperinflação”, atesta.

Para os especialistas ouvidos pelo JC, o PSDB tem acertos que vão além do Plano Real e que devem ser reconhecidos em seus 29 anos de existência. “A aprovação da lei de responsabilidade fiscal é um dos legados do partido”, indica o cientistas político e professor das faculdades Damas e Estácio, Elton Gomes.
Essa também é a leitura do sociólogo Rodrigo Prando, do Instituto Mackenzie. “O governo do PSDB tem como marca principal a estabilidade econômica do País, o controle da inflação e a aprovação a lei de responsabilidade fiscal”, diz.

No entanto, o PSDB está longe de cumprir o que anunciou em sua fundação, quando surgiu na política brasileira como uma dissidência do PMDB e capitaneado por Mário Covas. O lema de que estaria “longe das benesses oficiais e perto do pulsar das ruas” não foi colocada em prática. “O PSDB se transformou naquilo que a gente chama de partido de quadros, que opera a partir do sistema de barganha e trocas próprias do presidencialismo de coalização, mas que teve dificuldade para se articular com a sociedade civil organizada”, analisa Elton Gomes.

“O PSDB precisa entender que vive uma crise profunda, de credibilidade e está precisando se reposicionar”, já declarou o deputado Betinho Gomes. O ex-prefeito Elias Gomes vai na mesma toada. “Um jovem de 29 anos não pode ficar envelhecido. Tem que ser refundado e defender o parlamentarismo”, opina.

A tese de refundação é levantada por André Régis. “Defendo um novo PSDB, com um processo de renovação, estabelecimento de primárias para escolha do candidato à presidência da República e um processo de discussão sobre o programa do partido dentro do contexto pós-Lava Jato”, declara.

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