Empresa pernambucana vende crédito de carbono para Fifa

Antônio Assis
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Patrícia Raposo
Folha-PE

Copa do Mundo e a Copa das Confederações geraram 2,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2). A maior parte dessas emissões veio do transporte de passageiros. Para se ter uma ideia, apenas uma das companhias nacionais ampliou em 750 o número de voos domésticos durante o torneio. Ao transporte internacional em aeronaves credita-se 50,6% das emissões de CO2 e, ao local, 29,5%.
 Para reduzir esse impacto, a FIFA e o Comitê Organizador se comprometeram a compensar 100% de suas próprias emissões nos eventos comprando créditos de carbono. E em todo Nordeste, apenas uma fábrica vendeu os créditos para a FIFA, a Kitambar Artefatos de Cerâmica. A empresa é a primeira fabricante de telhas e tijolos da região a receber o Certificado de Créditos de Carbono da Social Carbon Credit. Com isso credenciou-se a fazer parte do Programa de Compensação de Emissões de Carbono da Copa do Mundo da FIFA 2014.
O portfólio de projetos de baixo carbono da Fifa é enxuto - apenas quatro negócios no Brasil - e foi cuidadosamente selecionado, levando em conta não apenas o uso de energia limpa, mas a realização de projetos socais. O que justifica a presença desta indústria pernambucana nesse seleto grupo, foi um conjunto de ações que a fizeram se diferenciar dos concorrentes.
À frente da fábrica, Antonio Marcos Tavares Barbosa, que herdou o negocio do pai em 2011, vem, com uma irmã, implantado as modificações. O passo principal foi mudar a matriz energética. A lenha, usada desde sua fundação, em 1976, foi substituída por algaroba de reflorestamento, poda de fruteiras de sítios da região e resíduos de fábricas de móveis.
Além disso, a empresa mecanizou quase 50% de sua linha de produção, o que impactou positivamente na mão de obra, cada vez mais difícil de achar na região. “Temos uma capacidade de produção de 3,5 milhões de peças mês e às vezes deixávamos de produzir por falta de pessoal”, explica Antonio Marcos.
Mas a automação é apenas um detalhe do projeto, concebido pela Social Carbon, que se baseia num hexágono, onde numa das pontas consta esse item em contraponto a outros cinco: social, humano, carbono, tecnológico, ambiental e financeiro. E a indústria que deseja vender seus créditos precisa equilibrar essas pontas para avançar na certificação. A Kitambar realiza ações sociais em várias frentes, como a ajuda a instituições de caridade, a exemplo do Instituto de Câncer Infantil do Agreste, a Associação A Caatinga, ou o desenvolvimento do programa de alfabetização de seus funcionários.
As inovações levaram a uma redução de 45mil toneladas de CO2 por ano. Todo esse volume é convertido em créditos, que podem ser vendidos não só à FIFA, mas a todos que tiverem interesse em comprá-los. Neste negócio, a Kitambar é sócia da Social Carbon. Cabe a esta fazer o projeto, a auditoria e a venda. Os valores negociados coma FIFA são mantidos em sigilo, mas o preço dos créditos no mercado global não é segredo: gira em torno de três euros a unidade.
O resultado do esforço é coroado não só como clientes do porte da FIFA, mas com o reconhecimento do mercado. A empresa recebeu o prêmio João de Barros, concedido pela Associação Nacional da Indústria de Cerâmica, e vende cada vez mais para além das divisas pernambucanas.
 

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