Aramis Trindade é Romeu e também Julieta

Antônio Assis
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Aramis: polivalente
Divulgação

Bruno Albertim
JC Online

Poucos atores têm uma folha de serviços prestados tão extensa ao cinema brasileiro recente: em cerca de 20 anos, desde que fez o premiado Tenente Lindalvo em O baile perfumado (Lírio Ferreira e Paulo Caldas), ele já apareceu em 48 filmes. Só este ano, pode ser visto em quatro longas. Mas, agora, Aramis Trindade milita mais intensamente para levar ao palco e a públicos de lugares variados sua versão sertaneja e declaradamente armorial de Romeu e Julieta.

Enquanto pode ser visto, nas noites de sexta-feira, como o bodegueiro impagável Manoel da (ótima) minissérie Amorteamo (RedeGLOBO), Aramis Trindade está no Recife – sua terra de nascimento, de onde saiu, há cerca de 10 anos, para trabalhar como ator no Rio, depois da consagração em O auto da Compadecida dirigido por Guel Arraes. Na companhia da esposa e também produtora Alessandra Alves, cumpre uma agenda de apresentações da peça em escolas particulares do Recife.

“Há dois anos, tentamos viabilizar a captação de recursos para levar o espetáculo ao palco. Enquanto isso, vamos fazendo uma versão mais compacta”, diz ela. Em um monólogo de 40 minutos, o espetáculo é uma versão solar e nordestina do clássico shakesperiano reencenado, na década de 1990, por Ariano Suassuna. “Um tema clássico contado em forma de cordel, uma coisa bonita”, diz Aramis, dono de uma metralhadora verbal única que justifica sua capacidade de entrar e sair de tantos personagens aos mesmo tempo.

Aramis está sozinho em cena, prova de sua versatilidade camaleônica. No primeiro momento do espetáculo, age como uma espécie de arauto, um ator-narrador que resume a trama enquanto vai incorporando e se despindo de alguns dos principais personagens. Além das amas e senhores, se reveza como os elementos do casal mais famoso da literatura ocidental. Todo o texto é executado no formato de 56 sextilhas de cordel.

Zé da Flauta assina a direção musical e responde pelas flautas. Breno Lira e Tuca Araújo empunham a viola de 12 cordas. Na versão para o teatro, ainda em fase de viabilização, a música será executada ao vivo. Na montagem para escolas, empresas e mesmo residências (“Já fiz o espetáculo em casas do Rio e de Belo Horizonte, adoraria fazer o mesmo no Recife”, ele conta), a música gravada é reproduzida eletronicamente.

No segundo momento do espetáculo, Aramis incorpora o próprio Ariano para executar uma versão ficcional de uma das famosas aulas-espetáculos do escritor. Didático sem ser enfadonho, fala sobre cultura popular nordestina e a importância de Shakespeare. “Aí, o texto é um pouco meu também, vou acrescentando minhas informações”, diz o ator, disponível para eventos na cidade (contato@marinadeideiasproducoes.com.br). O segundo momento não é menos vigoroso que o primeiro: o próprio Ariano chegou a dizer, certa vez, que nem ele mesmo poderia se imitar tão bem quanto Aramis faz.

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