Livro aborda papel de judeus pernambucanos na fundação de Nova York

Antônio Assis
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O autor, Paulo Carneiro, investigou em livros a história dos judeus pernambucanos
Alexandre de Paulo/ADPhoto/Divulgação

JC Online

Uma boa parte dos pernambucanos já ouviu falar que no século 17 alguns judeus que saíram do Estado depois da expulsão dos holandeses, em 1654, terminaram parando na cidade de Nova Amsterdã, futura Nova Iorque. Tratado quase como lenda e amplamente estudado por pesquisadores, o episódio recebe agora um novo olhar. Para mostrar tal trajeto importante e novos detalhes sobre ele o jornalista pernambucano Paulo Carneiro criou o livro Caminhos cruzados: a vitoriosa saga dos judeus do Recife no século XVII, da expulsão da Espanha à fundação de Nova York (editora Autografia).

Baseado em pesquisas sobre a história do judaísmo, o volume mostra uma saga impressionante. Paulo, descendente de cristãos-novos, revela as perseguições e expulsões que levaram judeus a irem passando por Espanha, Portugal, Brasil e Estados Unidos.

“Eu decidi escrever a obra depois de, numa conversa com o professor João Ângelo Oliva Neto, notar que, apesar de todos os recifenses conhecerem essa história, ela é pouco difundida fora do Estado. No começo, queria dar uma ar mais descontraído, mas fui vendo que o sofrimento dos judeus merecia uma abordagem mais sóbria”, conta Paulo.

Segundo ele, não há exagero nenhum em falar que os 23 judeus pernambucanos que terminaram em Nova Amsterdã foram fundamentais para fundação de Nova Iorque. O Recife, no século 17, era uma cidade bem maior do que, na época, a atual metrópole americana: tinha cerca de 7 mil habitantes contra os quase 700 da então colônia calvinista. “Para se ter uma ideia, a principal atividade econômica deles era o comércio de pele de castor”, revela Paulo.

As provas dessa presença pioneira podem ser vistas no Cemitério dos Judeus, em Nova Iorque, que tem sepulturas com sobrenomes como Fonseca, Seixas, Gomes, Nunes, Cardozo, Castro e Bueno de Mesquita, e na sinagoga Shearith Israel. Os 23 pernambucanos pararam lá depois de serem expulsos de Pernambuco.

O destino era as Antilhas, mas uma das embarcações se perdeu devido a intempéries e foi atacada por um navio pirata. “Eles foram resgatados pelo navegador francês Jacques Lamot, que os levou até a Jamaica. Lá só os convertidos ao cristianismo puderam ficar. Assim apenas esses pioneiros seguiram até Nova Amsterdã terminando um trajeto que durou seis meses”, explica Paulo.

A obra ainda fala do início dessa caminhada até Nova Iorque, que começou com a expulsão dos judeus da Espanha, em 1497. De lá, partiram para Portugal – onde foram novamente perseguidos e obrigados a se converter. Com a instalação da Inquisição no país, judeus e cristão-novos vieram para o Brasil como colonos – outra leva de judeus ibéricos chegou de Amsterdã com a Invasão Holandesa, em 1630. “Além de falar português, eles conheciam o comércio do açúcar”, destaca Paulo. No Recife, o grupo fundou a sinagoga Kahal Zur Israel – a primeira da América Latina – e deixaram outros legados, como a Ponte Maurício de Nassau, construída pelo judeu Baltazar da Fonseca.

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