Lupércio vence irmão de Eduardo Campos em Olinda

Antônio Assis
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Blog do Jamildo

Vereador eleito em 2012 com seis mil votos, dois anos depois deputado estadual com 24 mil e, neste domingo (30), prefeito eleito da cidade de Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR), com 56,57% dos votos no momento em que 93,29% das urnas estavam apuradas. Professor Lupércio (SD) superou neste segundo turno outra surpresa, o irmão do ex-governador Eduardo Campos, Antônio Campos (PSB), que ficou com 43,43% dos votos nesse momento.
O socialista havia terminado a primeira rodada de votações na frente, com 28,17% dos votos válidos, contra 23,38% de Lupércio.

A popularidade de Lupércio vem da atividade que ele exerce à frente de duas comunidades terapêuticas privadas, que cuidam de usuários de drogas – localizadas em Igarassu e Paulista. E também dos núcleos de saúde, centros de fisioterapia gratuita e academias do bairro em vários pontos de Olinda, além de outras iniciativas promovidas na cidade.

Apostando na estratégia de se mostrar como o “liso”, sem dinheiro – embora sua prestação de contas indique um patrimônio de pouco mais de um milhão de reais -, Lupércio acusou o adversário de ser um candidato “riquinho” e “forasteiro”, que teria caído de paraquedas no município.

Essa foi a tônica de todo segundo turno, que se ressentiu vendo grandes embates entre eles sobre temas que passaram ao largo dos problemas da cidade. Como resposta, na reta final de campanha, Antônio apostou na acusação de que Lupércio era a continuidade das gestões do PCdoB na cidade. Administração iniciada em 2000, com a hoje deputada federal Luciana Santos, que se reelegeu e fez o sucessor, o atual prefeito Renildo Calheiros.

O problema dessa afirmação é que Renildo conta com uma rejeição de mais de 80% dos olindense. Tanto que Luciana nem para o segundo turno conseguiu avançar, parando na quarta colocação. Na frente de vários colégios eleitorais, neste domingo, um panfleto proibido pela Justiça Eleitoral em que aparecem juntos Lupércio, Renildo e Luciana foi visto. Durante a semana, quatro militantes que distribuíam o material foram detidos.

Internamente na campanha dele, se reconhece que essa associação passou a incomodar e ser vista publicamente como provável pelo fato de o candidato não cravar, quando perguntado, se iria ou não contar com os comunistas em seu palanque ou num eventual governo. Declaração que foi feita faltando quinze dias para o pleito. “Não irei colocar ninguém do PCdoB comandando as secretarias”, frisou.
Falta de estrutura

No entanto, essa ligação foi usada como estratégia apenas no fim da campanha. A falta de estrutura e de atenção do próprio Solidariedade foram sentidas desde o início do primeiro turno. “Rodrigo Coutinho teve mais estrutura que eu, é verdade”, confessou Lupércio, ao se referir ao vereador eleito no Recife, filho do presidente estadual do partido, Augusto Coutinho.

A sua candidatura registrou até este domingo, no site do Tribunal Regional Eleitoral (TSE), ter gasto R$ 151 mil, contra R$ 728 mil de Antônio, mas o próprio candidato sabe que esses números precisam ser atualizados. “Quando acabar vou olhar essa questão da prestação”, afirmou na semana final de campanha. A falta neste quesito levou o grupo adversário a protocolar denúncia no TSE.

Em alguns eventos presenciados pela reportagem, a falta de apoio se refletiu na ausência de material para distribuir aos eleitores. Durante uma caminhada logo após o primeiro turno no bairro do Varadouro, próximo ao Sítio Histórico da cidade, faltaram panfletos com o nome e o número do candidato. Fora os constantes atrasos na agenda. Neste dia, foram quase três horas para que o cortejo, marcado inicialmente para as 16h, saísse. Mas não sem antes contar com uma oração proferida por um pastor da comunidade.

Lupércio se lançou apenas com o próprio partido, tendo como vice o correligionário e também advogado Márcio Botelho, que ele conhece há mais de 12 anos. Porém, os dois vieram a se aproximar mais em uma academia de musculação no bairro de Jardim Atlântico. Essa chapa puro-sangue foi resultado de recusas.

O nome que esteve mais próximo foi o do médico Gustavo Rosas (PV), que também se lançou candidato mas amargou a nona colocação. Guga diz que, em agosto, chegou a ser oferecido para a executiva Estadual do Partido Verde “quatro secretarias, mais 30 cargos na administração municipal e a coordenação de campanha”. Porém, o acordo não foi firmado.
Vai acabar com o Carnaval?

Sua ligação religiosa também foi explorada pelo adversário. Lupércio desde 2006 é da Assembleia de Deus e, no começo de outubro, a estratégia era divulgar que ele acabaria com o Carnaval de uma das cidades que conta com um dos festejos mais tradicionais do País. Em um dos eventos, essa possibilidade foi elencada por algumas pessoas abordadas pelo candidato. Ele garantiu que “não acabaria, mas investiria na festa”.

Ele se apresentou sempre, quando indagado, como “cristão”, não como “evangélico”. Embora, de acordo com o Censo de 2010, Olinda conte com 30% da população evangélica. A escolha da vice de Antônio Campos – que culminou em Ceça Silva -, por exemplo, foi norteada para atender este eleitorado.
Deputado/candidato

Precisando administrar a agenda com as sessões na Assembleia Legislativa e os atos de campanha, encontrar Lupércio parado foi um problema para quem tentou marcar uma entrevista exclusiva com ele, ou mesmo para os seus assessores. Confirmar uma gravação com ele, seja entrevista ou debate, se mostrou tarefa difícil. Angustiante, quando o postulante, na maioria das vezes, chegava poucos minutos antes do horário combinado.

Por mais que se mostrasse corrido, sempre com o celular na mão, Lupércio era atencioso com a imprensa e os eleitores. Apostando na imagem de “povão”, de homem negro que, segundo ele, sempre morou na periferia de Olinda, era bem recebido por desconhecidos ou mesmo por pessoas que tinham alguma ligação. “Eu sou parente de…”, era comum algum eleitor informar a ele, mostrando proximidade. A frase era sempre completada com algum apelido carinhoso.

Lupércio respondia citando algum detalhe da tal pessoa citada. Resposta que alegrava o interlocutor. Quando entrava na casa de algum eleitor, não era um abraço ou aperto de mão que ele dava. Para a impaciência da imprensa, ele entrava e demorava até uma hora conversando com os residentes.

A maior estrutura e trunfo que ele teve durante a campanha tem 1,65 metro. Ele mesmo. Que de um candidato a vereador desacreditado, há quatro anos, se fez a maior surpresa das eleições em Olinda, já na passagem para o segundo turno e, principalmente, agora eleito.

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