Operador do PMDB relata como recolheu dinheiro sujo em nome de Renan e Jader

Antônio Assis
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ROMBO
O presidente do Senado, Renan Calheiros. O operador conta que recolheu propina em dinheiro vivo para o senador (Foto: Adriano Machado/ Editora Globo)

FILIPE COUTINHO E ANA CLARA COSTA
ÉPOCA

Na badalada Rua Farme de Amoedo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, funcionou até 2007 o restaurante Chez Pierre, no anexo do Hotel Ipanema Plaza. Ali, diante de um cardápio que reunia 102 pratos,Felipe Parente encontrou-se mais de uma vez com Iara Jonas, uma senhora de aspecto distinto, sempre elegante. Avessa a rodeios, sucinta, Iara apenas pegava envelopes, por vezes sacolas, cheios de dinheiro, entregues por Felipe. Iara era servidora do Senado em Brasília, assessora do senador Jader Barbalho, do PMDB do Pará. Felipe, empresário, era operador do então presidente da Transpetro, o ex-senador Sérgio Machado, do PMDB. ÉPOCA teve acesso a depoimentos sigilosos prestados por Parente aos procuradores do Grupo de Trabalho da Operação Lava Jato na Procuradoria-Geral da República. Responsável por buscar propina em dinheiro vivo junto a empresários que detinham contratos com a Transpetro, um braço da Petrobras, Parente era o homem da mala dos senadores do PMDB. Sua confissão é a prova mais robusta até agora contra o presidente do Senado, Renan Calheiros.

Entre 2003 e 2015 Sérgio Machado ocupou o cobiçado cargo de presidente da Transpetro graças à indicação e à proteção de Renan. Escolheu então Felipe Parente para fazer o trabalho de recolher a propina exigida pelos senadores que o mantinham no cargo. O relato de Parente é minucioso. Ele fornece o roteiro, como protagonista, das captações de dinheiro sujo junto a empreiteiras integrantes do petrolão, em endereços precisos, circunstâncias e locais dos cerca de 15 encontros que teve com Iara, identificada por ele como intermediária exclusiva de Renan e Jader Barbalho. O depoimento de Parente é peça-chave na estrutura narrativa que a procuradoria monta para caracterizar o envolvimento de Renan no esquema que sugou bilhões de reais da Petrobras. Com a prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, percebeu-se a força da metodologia da PGR. Na fundamentação de sua decisão, o juiz Sergio Moro elencou uma dúzia de investigações conduzidas pela equipe que despacha com o procurador-geral, Rodrigo Janot.

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