Petrobras vende complexo petroquímico em Pernambuco por US$ 385 milhões

Antônio Assis
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Valor pago pela mexicana Alpek é muito abaixo dos R$ 9 bilhões investidos pela estatal

Venda da Citepe e da PQS faz parte do programa de parcerias e desinvestimentos da Petrobras
Foto: Edmar Melo/ Acerco JC Imagem

JC Online

Após cinco meses de negociações, a Petrobras fechou a venda da Companhia Petroquímica de Pernambuco (PQS) e da Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe) para a mexicana Alpek. A compra encerra a participação da estatal num projeto que começou estrategicamente equivocado, que representou prejuízo financeiro durante sua operação e que está sendo vendido por um valor muito inferior ao investimento realizado e ao patrimônio do complexo. As fábricas custaram R$ 9 bilhões à Petrobras e estão sendo entregues por US$ 385 milhões (R$ 1,26 bilhão pela cotação da quarta-feira, 28). 

“O que está acontecendo é a entrega de um patrimônio público. Na época das negociações se especulava que o complexo fosse vendido por US$ 700 milhões. Esse preço já era considerado absurdo, mas foi pior do que imaginávamos. Diante disso, vamos entrar com uma ação na Justiça contestando o valor. Na Bahia, os petroleiros conseguiram embargar a venda de campos terrestres de petróleo por conta do valor abaixo do mercado”, adianta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de Ipojuca (Sinditêxtil Ipojuca), Rodrigo dos Santos. 

A venda da Citepe e da PQS faz parte do programa de parcerias e desinvestimentos da Petrobras, que totalizou US$ 13,6 bilhões no biênio 2015-2016 (abaixo dos US$ 15,1 bilhões projetados pela estatal). Como não atingiu a meta, a previsão para o biênio 2017-2018 é alcançar US$ 21 bilhões (antes o valor estava estimado em US$ 19,5 bi), numa tentativa de recuperar US$ 1,5 bilhão que faltaram para fechar a conta anterior. 

Desde que começou a funcionar em fase de pré-operação, em agosto de 2010, o complexo químico-têxtil vem acumulando prejuízo. No ano passado, a PQS teve resultado negativo de R$ 808 milhões e a Citepe, de R$ 818 milhões, totalizando um rombo de R$ 1,62 bilhão. Na ponta do lápis, o prejuízo seria superior ao valor da venda para a Alpek. O desinvestimento também está aquém do patrimônio do complexo, calculado em R$ 3,76 bilhões.

“A gente não conhece as condições da venda, que tem suas contingências, mas a intenção da Petrobras é fazer caixa com o plano de desinvestimento. Os investidores se interessam pelas condições atrativas dos ativos, que estão desvalorizados por conta do cenário econômico do País”, observa o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Thiago Norões, comentando o valor da venda. Na prática, as empresas querem comprar os ativos na baixa.
RETOMADA

Do ponto de vista da economia e do mercado, a venda do complexo para a Alpek significa o avanço de um empreendimento que estava subutilizado sob o comando da Petrobras. O economista Jorge Jatobá destaca a importância de a maior companhia de poliéster do mundo assumir a PQS e a Citepe. “A compra permite deslanchar a operação de grandes empreendimentos que se instalaram no Estado entre 2005 e 2015, além de mudar a estrutura industrial”, diz. 

“Temos um parque industrial subaproveitado que vai ser explorado em sua capacidade ideal, além de ter um ator importante do mercado petroquímico mundial para tocar o empreendimento. A Alpek poderá atrair novos negócios para o complexo porque tem conhecimento e capacidade de investimento”, reforça Norões. 

O governador Paulo Câmara recebeu a notícia ontem pelo ministro pernambucano Fernando Bezerra Filho e também comemorou a venda. “A compra pela Alpek será fundamental para a consolidação do nosso polo petroquímico, além de voltar a criar empregos, que é o nosso maior desafio em 2017.”
HISTÓRIA

O projeto de um polo de poliéster em Pernambuco seria tocado em parceria pela Petrobras e o grupo italiano Mossi & Ghisolfi (M&G), que já havia anunciado a construção da maior fábrica de resinas PET do mundo em Suape. Juntas, as empresas produziriam também o PTA (matéria-prima do PET e para a produção de fios têxteis de poliéster). Comandada pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras (hoje delator na Lava Jato), Paulo Roberto Costa, a negociação não vingou e a estatal decidiu fazer o projeto sozinha. 

Na época, a decisão foi bastante criticada pelo mercado porque a Petrobras não tinha expertise na indústria petroquímica e estava dispensando um sócio com expertise e capacidade de investimento. Em fevereiro de 2007, o presidente Lula esteve em Pernambuco para participar de duas solenidades no mesmo dia: o início da fábrica da M&G e o lançamento da pedra fundamental da PQS/Citepe. No dia, o diretor da M&G Marco Ghisolfi alfinetou a Petrobras dizendo que a empresa estava inaugurando uma fábrica e a estatal, uma placa.

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