Atirando para a plateia Hélio Schwartsman - Folha de S.Paulo

Antônio Assis
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Uma das dificuldades da democracia é que os dirigentes precisam dar respostas espalhafatosas –de preferência que rendam fotos nos jornais– até para problemas cuja solução ou inexiste ou requer vários anos de ajustes, às vezes impopulares, antes de apresentar resultados.

Nessas circunstâncias, quando temos sorte, os governantes anunciam medidas apenas inócuas; quando não temos, o que é mais comum, acabam adotando políticas contraproducentes ou fazendo besteira grossa mesmo.

Espero que a ideia do governo Temer de colocar as Forças Armadas para ajudar a controlar a crise nos presídios seja do primeiro grupo.

Não há dúvida de que imagens de garbosos soldados com armas em punho embarcando num helicóptero que pousa no pátio de um presídio ficariam lindas nos telejornais, bem menos certo é se os militares, que não recebem nenhum tipo de treinamento para lidar com presos, têm condições de contribuir de forma efetiva para conter as rebeliões.

A verdade, dolorosa, é que, além de gerenciar os aspectos mais agudos da crise penitenciária, não há muito que esse governo possa fazer.

Uma resposta efetiva à questão das prisões passa pelo equacionamento de problemas crônicos da sociedade brasileira, com os quais nem a administração Temer nem o Congresso Nacional têm condições políticas ou mesmo morais de lidar agora.

Por mais que tente, não consigo visualizar Michel Temer e os atuais parlamentares legalizando o comércio de drogas ou aprovando leis que substituam mais penas restritivas de liberdade por outro tipo de sanção.

Também não os vejo tomando medidas que contribuam para que nosso Judiciário deixe de ser um dos mais caros e ineficientes do mundo, ou que tragam nossas polícias do século 19 para o 21.

E, sem iniciativas desse calibre, é pouco provável que a situação nas prisões mude substancialmente nos próximos anos

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