Desistência após escolha de curso é motivo de polêmica

Antônio Assis
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Após tirar um tempo para pensar, Giovana Pires ficou com peso na consciência de estar tirando a vaga de alguém
Foto: Ed Machado

Moema França
Folha de Pernambuco

Com a divulgação do resultado da primeira chamada do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2017, na última segunda-feira (30), os estudantes já começam as matrículas em fevereiro, do dia 3 até o dia 7. Mas é o que acontece depois disso que tem chamado a atenção de alguns professores. Com a facilidade de colocar primeira e segunda opção de graduação, além da vantagem de consultar todos os dias a nota de corte, muitos estudantes escolhem um curso que não é necessariamente aquele que quer. Os alunos escolhem o curso que a nota permite. Lá na frente esse grupo acaba desistindo e deixando vagas ociosas e despesas para as universidades.

Os dados mais recentes do Ministério da Educação (MEC) são do Censo da Educação Superior 2015. Eles apontam que, em 2010, 11,4% dos alunos abandonaram o curso para o qual foram admitidos. Já em 2014, o número chegou a 49%. Para o professor de matemática Marcello Menezes, o tempo que o Sisu fica aberto para inscrições - este ano foram cinco dias - colabora para que candidatos se matriculem nos cursos menos preferidos.

“Abrir a inscrição por esse período faz com que, com o tempo, o aluno escolha um curso que não quer de fato, mas o que a nota dá. Depois, vai fazer vestibular de novo, vai passar em outra coisa. Só que alguém deixou de entrar naquela graduação por causa disso. As pessoas têm o direito de escolher e desistir, mas escolher só pelo fato de querer passar em alguma coisa cria um problema sério depois. Particularmente, acredito que não deveria ter tentativa de curso no Sisu. Isso iria segurar mais a migração dos candidatos para cursos que não desejam”, opina.

Mariana Arruda tem 19 anos e passou os últimos três estudando até nos fins de semana para tentar uma vaga em medicina. Embora sua nota do Enem tenha sido boa (766), ainda não foi dessa vez. Decidiu então colocar direito na UFPE como primeira opção e foi aprovada. 

“Vou entrar no curso, mas continuarei fazendo cursinho pré-vestibular. Acho errado caso desista depois, já que seria uma vaga de outra pessoa. Mas com 19 anos a pessoa nem sabe o que é universidade, nunca teve contato. A gente tem que escolher muito cedo. É uma escolha muito importante para o resto da vida. Direito é uma coisa que posso gostar. Quero ter a experiência de universidade”, conta.

A situação é parecida com a de Giovana Pires, 18. “Passei em direito na UPE e tirei a semana para pensar se é isso que quero. É o curso que faria se não quisesse medicina. Hoje teria que me matricular, mas, como tenho certeza que quero tentar vestibular novamente, fiquei com peso na consciência de estar tirando a vaga de alguém”, diz.

Na UFPE, a taxa de evasão geral chega a 17%, por diversos fatores. Segundo o professor Paulo Góes, da Pró-Reitoria de Assuntos Acadêmicos (Proacad), a instituição faz um monitoramento e não considera esse tipo de desistência do curso expressivo. “Não há uma diferença marcante por causa do Sisu. A evasão é multifatorial. Alguns dependem da universidade e outros são do próprio aluno. Mas fazemos um edital de ingresso de vestibular extra para preencher o que ficou aberto com as desistências”, explica.

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