Mata em Paulista agoniza com incêndios constantes

Antônio Assis
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Moradores denunciam que infratores estão abrindo clareiras para fazer terrenos e privatizar uma área que é pública
Foto: Jedson Nobre

Priscilla Costa
Folha de Pernambuco

O Parque Natural Municipal do Frio, primeira Unidade de Conservação da categoria no município de Paulista, no Grande Recife, teve parte de seus 40 hectares de Mata Atlântica consumidos pelas chamas. O incêndio teve início há duas semanas e foi, segundo moradores, insistentemente denunciado, mas nenhum órgão competente foi até o local. Apenas na última quinta-feira (19) o Corpo de Bombeiros deslocou quatro homens e uma viatura para extinguir os focos de incêndio.

Na operação, os pontos foram resfriados e foi cessada qualquer possibilidade de um novo sinistro. Antes da ida do Corpo dos Bombeiros ao lugar, ainda era possível avistar, pela manhã, labaredas consumindo a mata. Até troncos de árvores estavam liberando a seiva bruta (solução aquosa de sais minerais) com o calor. O cenário se tornava ainda mais preocupante porque em meio à unidade de conservação passam fios de alta tensão.

O incêndio provocou grande nuvem de fumaça, que se espalhou ao ponto de ser vista a 1 km do centro de Paulista. Ainda para esta semana, a Secretaria de Meio Ambiente do município pretende realizar uma ação conjunta com o 17º Batalhão da Polícia Militar (BPM) a fim de identificar os infratores.

Os moradores temem a ocupação ilegal e desordenada da área, que pertence à gestão municipal e ainda possui um grande maciço natural preservado. Morando há 15 anos num terreno que fica bem em frente à floresta, Braz Heleno da Silva, 67 anos, denuncia que os desmatamentos no lugar aconteciam uma vez ou outra, mas que recentemente vem ocorrendo todos os dias.

“Daqui a pouco a gente não vai ter mais esse verde. A fiscalização (da prefeitura) até bate aqui, mas só para fazer uma média. Nunca vi tomarem nenhuma medida eficaz para parar com essas queimadas de uma vez. Estão abrindo clareiras para fazer terreno e privatizar uma área que é pública”, denuncia. 

Problemas respiratórios têm acometido pessoas que moram em casas próximas à mata. “Minha filha mesmo tem só 8 meses e está nebulizando três vezes por semana. Aqui a gente sofre muito com essa fumaça. Tem que colocar pano úmido no rosto todo o tempo”, queixa-se a dona de casa Drielly Farias, 18.

A promotora de Justiça Mirela Iglésias explicou, por nota, que “o último despacho do Ministério Público de Pernambuco sobre os constantes desmatamentos no Parque Natural Municipal do Frio ocorreu no último dia 10, em que foram solicitadas à Secretaria Municipal de Meio Ambiente informações sobre o andamento dos procedimentos, bem como foram encaminhados à Central de Inquéritos de Paulista, para adoção das medidas pertinentes no âmbito criminal”.

O caso está na mira da 4ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania, quando foi instaurado, em 2012, inquérito civil a fim de averiguar as várias denúncias que chegavam ao órgão. “Vários autos de infração foram lavrados pela Secretaria de Meio Ambiente do município, sendo acompanhados pelo MPPE”, complementou a nota.

A diretora de Meio Ambiente de Paulista, Fátima Amaral, reconhece a dificuldade em controlar a situação, mas também explica que isso ocorre porque é difícil identificar os infratores. Segundo ela, as fiscalizações ocorrem semanalmente, porém, acredita que essas queimadas ocorrem em meio à madrugada.

“E assim não temos expediente. Além disso, tem a burocracia de articular com outros órgãos, porque até para os fiscais irem sós é arriscado. É por isso que vamos tentar atuar em horários fora do expediente normal na tentativa de flagrar e, consequentemente, autuar os envolvidos”, justifica.

Antes pertencente à família Lundgren, a Mata do Frio tornou-se Parque Natural Municipal do Frio após assinatura do Decreto nº 045 e está sob a responsabilidade da gestão municipal desde 2015.

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