Ratton: “Em defesa da crítica democrática: o fim do Pacto pela vida e o retorno da velha política”

Antônio Assis
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Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem Data: 09.01.2017 Assunto: Cidades - José Luiz Ratton, um dos idealizadores do Pacto Pela Vida, professor da UFPE e sociólogo participou de uma entrevista com o repórter Felipe Vieira na TV JC. Palavras-Chaves: - #

José Luiz Ratton, especial para o Blog de Jamildo

Professor do Departamento de Sociologia da UFPE

Acabo de ler, com um misto de surpresa e decepção, um texto de Evaldo Costa sobre a minha pessoa. Como todos sabem, fui assessor especial do Governador Eduardo Campos para a área de Segurança Pública, entre janeiro de 2007 e agosto de 2012 e ajudei a construir e elaborar os princípios, concepções, metodologias, mecanismos e metas do Pacto pela Vida.


Estive ligado diretamente ao Governador Eduardo Campos e participei centenas de vezes, de reuniões e tomadas de decisão, não só sobre a construção do Pacto pela Vida, como de seus mecanismos de implementação e monitoramento.

Defendi, sozinho, inúmeras vezes, na Assembléia Legislativa, os conceitos, valores e estratégias gerais do PPV, especialmente entre 2007 e 2009, por ser de fato, o único integrante do governo, escolhido diretamente pelo Governador Eduardo, capaz de conceber e construir um discurso articulado e abrangente sobre a Política Pública de Segurança, em um momento em que ela ainda não havia produzido resultados.

Coordenei pessoalmente dezenas de reuniões de preparação do Pacto pela Vida, ouvindo e escutando sugestões de integrantes de inúmeros setores da Sociedade Civil, das Polícias, do Ministério Público e do Judiciário, que resultaram na produção do documento original do Pacto pela Vida.

Participei desde o início, das reuniões embrionárias do Comitê Gestor do PPV e do grupo que colocou-o de pé.

Eduardo me ligava semanalmente, entre 2007 e 2014, mesmo depois que saí do governo, para me consultar sobre decisões a serem tomadas na área de Segurança.

Inúmeras vezes me chamou ao Palácio, para conversar comigo e me ouvir sobre o que fazer em situações de crise. Tenho orgulho de ter ajudado a definir os valores centrais, as estratégias, as prioridades e a meta de redução de homicídios do PPV, assim como o formato do seu Comitê Gestor.

De fato, não fui o único que concebeu o Pacto pela Vida, assim como não o foi o próprio Governador Eduardo Campos.

O PPV foi uma construção coletiva, liderada por ele, na qual tive participação decisiva e da qual me orgulho enormemente.

Organizei pessoalmente e participei de viagens do primeiro escalão do Governo estadual a Minas Gerais e a São Paulo, para conhecer experiências exitosas de redução de homicídios.

Coordenei pessoalmente, em 2009, 14 Conferências regionais de Segurança Pública em Pernambuco, além de ter liderado a Conferência Estadual de Segurança Pública, que contou com participação de mais de 2500 pessoas e ajudou a fortalecer as concepções e metas do PPV.

Até aquele momento, o PPV ainda estabelecia interlocução com os movimentos sociais, que foi abandonada em seguida. Participei ativamente de centenas de reuniões do Comitê Gestor do PPV.

A partir de 2014, realizei, a convite da Open Society Foundations e do Banco Mundial, duas avaliações do PPV, que venho publicando aos poucos mostrando o que funcionou, o que não funcionou e o que foi promissor no Pacto pela Vida. Tais atividades de investigação independente e crítica fazem parte das tarefas e obrigações de qualquer pesquisador sério.

Em 2015, antes de sair para o Pós-Doc em Amsterdam, apresentei ao Governador Paulo Câmara, os principais resultados da avaliação realizada. Inúmeros pontos daquela avaliação, que já tem quase dois anos, aparecem agora como realidade que salta aos olhos.

Evaldo resolveu me atacar porque tenho tornado públicas minhas avaliações sobre o declínio e o fim do PPV, evidenciado pelo aumento expressivo da criminalidade violenta no estado desde o fim de 2013.

Sou professor e pesquisador nesta área há vinte anos, sendo chamado para seminários, conferências e consultorias mundo afora, por minha produção acadêmica e sua repercussão pública(seis livros publicados, dezenas de artigos, relatórios de pesquisa etc).

Ademais, sempre fui um interlocutor ativo dos movimentos sociais da área de Direitos Humanos, das Polícias, do Ministério Público e do Judiciário no Brasil. Fui professor de 90% dos comandantes dos chefes de polícia e Comandantes de Polícia de Pernambuco, de quem gozo de enorme respeito. Minha biografia fala por mim.

Diferente do que foi dito, moro em Pernambuco desde 1993, há quase 25 anos, e conheço profundamente a realidade do estado.

Evaldo, me atacou de forma deselegante e desleal porque não tem resposta alguma às críticas políticas e técnicas que faço ao atual modelo de Segurança Pública de Pernambuco, que não mais pode ser chamado de Pacto pela Vida.

Repito, faltam aos atuais governos federal, estadual e do Recife, vontade, compromisso, método, imaginação, capacidade de aprender.

Nunca me coloquei como mentor, pai ou mãe do Pacto pela Vida, inclusive me recolhendo publicamente muitas vezes, mesmo quando não deveria. Mas fui um dos seus protagonistas, o que nem precisava ser dito, pois é público e notório, e não está em disputa.

Se Eduardo estivesse entre nós, não teria feito o que fez Evaldo. Seguramente teria me chamado para uma conversa, para entender o conteúdo das minhas críticas e as possibilidades de superar os graves problemas de violência que o estado vem vivendo.

Evaldo, provavelmente foi escalado, por alguém que não sabe o que fazer, para escrever este texto difamatório, que ignora o debate das idéias e recusa qualquer crítica, preferindo atacar e desqualificar quem pensa, e pensa diferente.

Agradeço a Evaldo Costa: seu panfleto, na verdade, é fruto do reconhecimento do meu trabalho.Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem

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