Mato e ferrugem cobrem obra inacabada de presídio citado em delação

Antônio Assis
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TV Jornal

Anunciado no governo de Eduardo Campos, o Centro Integrado de Ressocialização de Itaquitinga, localizado em uma área rural da Mata Norte de Pernambuco, tinha a promessa de desafogar o sistema prisional do Estado. Oito anos depois, a obra ainda não teve nem a primeira etapa concluída e foi parar nas investigações da Operação Lava Jato. A equipe da TV Jornal foi ao local e encontrou muito mato e estruturas enferrujadas na construção orçada em R$ 350 milhões. Prejuízo para o Estado, que vive um caos no sistema penitenciário com 29.800 presos para 9.800 vagas, e para quem trabalhou na obra e ficou sem receber.

Foi o caso do empresário Josué Batista dos Santos, proprietário de uma oficina de automóveis em Itaquitinga. Ele foi contratado para prestar serviços ao Centro Integrado. No início parecia tudo um grande negócio: o comerciante comprou novas peças, contratou mais mecânicos, porém, o que aconteceu foi um prejuízo de mais de R$ 70 mil. "Cheguei a mexer em 20 carros da construtora. Troquei peças e fiz manutenção. Perdi muito dinheiro", conta.


Delações 

Além do atraso na entrega e dos prejuízos para os trabalhadores, o empreendimento foi citado em delações da Operação Lava Jato. A construção, que tem 104 mil metros quadrados, 15 pavilhões e capacidade para receber 3.500 presos, teria 70% do valor pago pela iniciativa privada e 30% pelo governo. Deveria ter começado em outubro de 2009, com prazo de três anos para a conclusão. No entanto, os trabalhos só iniciaram em junho de 2010. Mas em 2012, a empreiteira responsável pelo consórcio deixou o projeto e a construção parou.

Em depoimento, o empresário Marcelo Odebrecht afirmou que, neste mesmo ano, o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pediu dinheiro a ele para terminar a construção do presídio. A empreiteira teria repassado R$ 50 milhões para obra. "Eduardo via esse projeto como um projeto que podia comprometer, inicialmente, a candidatura de Geraldo Julio (prefeito do Recife) e depois a própria candidatura dele. E uma certa vez, ele pediu a gente para ver como é que a gente ajudava esse projeto", relata o ex-presidente do grupo Odebrecht.

Marcelo Odebrecht disse ainda que Eduardo voltou a procurá-lo. Desta vez, em 2014, para tratar de doação para a campanha presidencial. Foi quando o empresário revelou que não repassaria mais dinheiro até que a situação de Itaquitinga fosse resolvida. Outro delator da Odebrecht, Fernando Reis, revelou mais um problema da obra. Segundo ele, durante uma inspeção no presídio foi identificado que a empreiteira construiu paredes com pré-moldados de gesso, material impróprio para celas.

Resposta

Em nota, o Governo de Pernambuco disse que, em janeiro de 2015, ao detectar que a obra tinha sido abandonada sem estar concluída, fez um levantamento minucioso de todos os problemas e em março do ano passado decidiu suspender o contrato de parceria público-privada com o consórcio responsável pela obra. Na época, 65% do projeto tinha sido concluído. O governo então fez uma nova licitação para contratar o serviço de conclusão do primeiro módulo do presídio, que terá capacidade para mil presos em regime fechado e será entregue até o segundo semestre deste ano. O governo informou ainda que está elaborando o edital de licitação para as obras do segundo módulo, que devem começar ainda este ano também.

Outros prejuízos

Mais transtornos que a obra trouxe para o Estado serão mostrados em reportagens especiais no Jornal do Commercio deste domingo (23) e nos programas Notícias da Manhã e TV Jornal Meio-Dia, na TV Jornal, nesta segunda-feira (24).

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