Véspera de feriado tem estreia de "Joaquim" no Recife

Antônio Assis
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Diretor e elenco apresentam o filme Joaquim à plateia no Cinema São Luiz
Foto: Paullo Allmeida

Luna Markman
Folha de Pernambuco

Na véspera da comemoração do Dia de Tiradentes, recifenses puderam conferir a estreia de "Joaquim", do cineasta pernambucano Marcelo Gomes, de "Cinema, Aspirinas e Urubus". O filme narra os eventos que levaram Joaquim José da Silva Xavier, um dentista de Minas Gerais, a se tornar o importante herói e mártir nacional Tiradentes. A exibição ocorreu para convidados no Cinema São Luiz, no bairro da Boa Vista, área central do Recife, e, a partir desta sexta-feira (21), o filme estará em cartaz na mesma sala para o grande público [confira o horário das sessões].

Em entrevista ao Portal FolhaPE antes da sessão inaugural, o diretor contou que o roteiro buscou inspiração em vários textos históricos e acaba deixando uma lição para os dias atuais. "A gente vê que, naquela época, Minas estava produzindo muita riqueza que estava concentrada nas mãos de uma elite econômica. Eu acho que isso é uma coisa que podemos aprender muito: que momentos terríveis de injustiça social foram cometidos no passado pela falta de inclusão social e que devemos construir um pais para todos", disse.

Marcelo Gomes também chamou atenção para o traço que ele considera mais revolucionário no perfil do Tiradentes, desconhecido por muitos. "Ele é um brasileiro comum, cheio de contradições, dúvidas, desejos, enfrentando situações de vida que fazem ele mudar a cabeça e ter uma consciência política, se tornando um rebelde. O que eu acho revolucionário é que, para cometer um ato heroico, não precisa ser alguém enviado pelos deuses, algo messiânico. Qualquer brasileiro comum pode cometer ato heroico", opinou.

Já o ator Julio Machado, que interpreta Joaquim, destacou que a obra serve como um espelho do caráter da nossa sociedade, mesmo falando sobre uma história que se passou há 200 anos. "O filme se debruça sobre um período colonial que é a gênese da nossa formação enquanto sociedade, procura revelar, através dessa crônica do cotidiano, hábitos de comportamento que foram incorporados. É surpreendente notar que hoje nós padecemos das mesmas fraturas, dos mesmos hábitos, das mesmas crueldades", comentou.

O filme foi rodado em quatro semanas, na cidade de Diamantina, Minas Gerais, em julho de 2015, com financiamento da Hibermídia, Edital Brasil-Portugal, Funcultura e Petrobras, num total de R$ 2,5 milhões. Ao todo, o longa será exibido em 33 salas de cinema no Brasil.

"Brasil é o país que mais sofri racismo"

Um dos personagens que "mudaram a cabeça" de Tiradentes é Preta, interpretada pela atriz portuguesa Isabél Zuaa. Ela é uma mulher escravizada que consegue fazer pequenas revoluções dentro de um sistema escravocrata e inspira o amadurecimento do futuro revolucionário. "Ela, dentro de uma sociedade opressora do século 18, consegue ter estratégias de criar afetos e usar todas as suas ferramentas para atingir sua liberdade e resgatar sua liberdade de volta", disse a atriz.

Mais cedo, a atriz mediou o painel “Trajetória: o espaço social e artístico da mulher negra”, no espaço Apolo 235, no Bairro do Recife. A conversa girou em torno da inserção e do resgate da autoestima da mulher negra no espaço social e artístico, com base nas experiências vividas pela atriz durante sua trajetória entre Portugal e Brasil. "O Brasil é o país que eu mais sofri racismo, infelizmente, e onde eu vejo maior diferença do fosso social e racial. Então, esse encontro valeu para discutirmos estratégias para conseguir mudar esse paradigma, de criar próprias histórias, escrever próprios roteiros", comentou.

O encontro foi fruto de uma parceria entre a produção do filme e a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, articulação política que atua no enfrentamento ao racismo e a todas as formas de violência contra as mulheres negras e desenvolve também ações de valorização desse segmento da população.

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