Dia Nacional da População em Situação de Rua é marcado por mutirão no Recife

Antônio Assis
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O mutirão ofereceu café da manhã às pessoas em situação de rua. 
Foto:Thalyta Tavares/ Esp.DP

Gabriela Araújo
Folha de Pernambuco

Um mutirão de atividades e serviços voltados para as pessoas em vulnerabilidade social marcou neste sábado o Dia Nacional da População em Situação de Rua. A mobilização aconteceu na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife. A data, 19 de agosto se remete ao Massacre da Sé ocorrido em 2004, no qual sete cidadãos em situação de rua foram assassinados com golpes na cabeça enquanto dormiam na Praça da Sé, em São Paulo. 

O evento no Recife foi promovido pelo coletivo Unificados pelas Pessoas em Situação de Rua, formado por ONGs, grupos informais, igrejas e movimentos. Foram oferecidos atendimentos médico, odontológico, estético, café da manhã e doação de roupas. Além disso, emissão de 2ª via da certidão de nascimento, CPF, divórcio, habilitação de registro, informações sobre pensão alimentar, direito criminal e do idoso e orientações jurídicas em diversas áreas. De acordo com José Henrique Fonseca, funcionário da Defensoria Pública da União (DPU), apesar dos vários serviços oferecidos, o principal foco era tirar a documentação das pessoas em situação de rua, como o CPF, já que ele é necessário para a realização de outras demandas. 

Márcia de Lima, 45, é catadora de latinhas e vive a maior parte do tempo em situação de rua, entre a Praça do Diario e a Praça do Arsenal. Márcia tem uma casa no Ibura, mas foi assaltada. "Tenho medo de voltar e não tenho dinheiro para comprar as coisas que faltam", conta. Ela tem dois filhos, um de 11 e outro de 20 anos, que normalmente a acompanham nas ruas. Ela foi até o mutirão para tentar tirar a 2ª via da sua certidão de divórcio e certidão de nascimento de um dos filhos, que levaram chuva e estavam desgastadas. Já Lindalva Maria de Nascimento, 50, mora no bairro da Bomba do Hemetério, mas é frequentadora da Praça do Diário, onde afirma se divertir e se distrair. Ela foi ao mutirão tirar o seu CPF e do filho, Moisés de Nascimento, 34. Tomou café da manhã, tomou banho, pegou roupas e comida.

Outra área que teve muita demanda foi a do salão de beleza. Era possível fazer a sobrancelha, unha e cortar cabelo e barba. Wellington Lima, 38, que também vive em situação de rua por estar desempregado, cortou o cabelo, o bigode e fez a unha. "Estou muito feliz. É uma forma de receber amor de graça", diz. Uma das voluntárias, Eduarda Carneiro, 21, estudante de direito e participante do grupo Samaritanos comenta que, para ela, é muito bom ver que as pessoas estão saindo renovadas e que a parte estética também muda o sentimento interior.

LUTA PELO ABRIGO NOTURNO

Além dos serviços oferecidos entre às 9h e 14h, o dia marca também a reivindicação pela criação de um abrigo noturno. Durante a ação, os voluntários realizaram de uma perfomance, deitando-se por um minuto no chão para chamar atenção pela proposta.

A construção do abrigo noturno, com equipamentos separados para pessoas do gênero masculino e feminino está prevista no Plano Municipal de Atendimento à População em Situação de Rua (PSR), que até hoje não foi ratificado na Câmara de Vereadores do Recife para se tornar lei. No ano passado, junto ao Institituto de Assistência Social e Cidadania (IASC), o Coletivo Unificados pelas Pessoas em Situação de Rua realizou o detalhamento do processo, incluindo o custo, que ficaria de R$ 700 mil por ano, funcionando todos os dias durante a semana entre 17h e 9h, com oferta de café da manha, jantar e cursos profissionalizantes. Após reuniões com a prefeitura, eles receberam a resposta de que não havia verba suficiente.

Com a extinção do IASC, o grupo teme que o projeto caia no esquecimento. "A gente trouxe esse mutirão para cá para dar volume ao ato em si, porque isso é uma demanda da população", pontua Rafael Araújo, coordenador do grupo Samaritanos. Para Igor Sacha, coordenador do Movimento Seja Mudança, a construção do abrigo não acontece porque ele não é colocado como prioridade. "E se estamos vivendo uma crise econômica, os mais afetados são os trabalhadores e a população de baixa renda, que vai acabar chegando ao extremo dessa situação".

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